À 4.ª edição, a BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas revela o “Presente Invisível” como reflexão sobre os poderes que impedem a igualdade, a justiça e a liberdade.

Lisboa e Faro são as cidades que, de 2 de Setembro a 15 de Outubro, recebem a nova e efervescente programação da BoCA. Entre comissões, estreias mundiais e nacionais, tanto de artistas consagrados como emergentes, a actuarem na sua linguagem ou a arriscar criar para outros registos, a Bienal de Artes Contemporâneas edifica a 4.ª edição na ideia de “Presente Invisível”.

A BoCA teve a primeira edição em 2017 e, desde então, estabeleceu sinergias entre cidades como Faro, Braga, Almada e Porto, assim como com outras estrangeiras, entre equipamentos culturais (museus, teatros, centros culturais) e o espaço público, territórios artísticos (artes performativas, artes visuais, música e cinema) e respectivos públicos. Até hoje apresentou mais de 890 estreias mundiais e nacionais e colaborou com mais de 200 artistas nacionais e internacionais como Marina Abramović, Grada Kilomba, Gus Van Sant, Marlene Monteiro Freitas, Romeo Castellucci, Vhils, Jérôme Bel, Angélica Liddell, entre outros.

Em 2023, apresenta-se em locais tão diversos como a Culturgest, maat – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, Teatro do Bairro Alto, MNAC, Academia das Ciências, Teatro Taborda, Teatro Ibérico, Estufa Fria, Panteão Nacional, Cinema São Jorge, Teatro Municipal de Faro, Museu Municipal de Faro, Fábrica da Cerveja, entre outros, numa incansável militância e sentido artístico que este ano pensa, ainda, “sobre a dissolução do corpo e das relações afetivas no lar do conforto digital” mas também sobre “um certo desencantamento pelo futuro, uma crise que impossibilita habitarmos totalmente o presente”, como avança John Romão, director artístico da BoCA.

Sempre consciente do tempo actual (cultural/artístico, social e político) John Romão assume que “deseja dar visibilidade a matérias viventes que não se veem, seja por condicionamentos sociais, políticos, culturais, económicos, jurídicos ou tecnológicos, seja por premeditadamente não se querer reconhecer a existência de outridades, de validar identidades que habitam as margens”. É com este desejo que a programação reflecte, este ano, sobre questões relacionadas com a crise migrante ou a identidade de género, reivindicando a presença física daquilo que não é dado a ver.

Odete, em performance na BoCA 2021 © Bruno Simão
Odete, em performance na BoCA 2021 © Bruno Simão

Os primeiros nomes confirmados não poderiam estar melhor enquadrados nessa vontade, como é o caso de Paul B. Preciado que exibe – em antestreia nacional – a premiada carta filmada a Virginia WoolfOrlando, a minha autobiografia política”, assim como apresenta, pela primeira vez em Portugal, a conferência-performance “Eu Sou o Monstro Que Vos Fala”, duas peças essenciais para entrar no universo obrigatório do filósofo e escritor transgénero, dos mais importantes no repensar das noções tradicionais de género, sexualidade e poder.

De regresso a Portugal, depois de uma passagem pelo Cinema Batalha no início do ano, está também a premiada artista polaca Agnieszka Polska, que arrisca a primeira criação de palco com “The Talking Car“. A peça acompanha um grupo de pessoas a tentar encontrar uma saída de um veículo em alta velocidade enquanto reflecte sobre as relações entre humanos, não-humanos e infraestruturas sociotecnológicas. O espectáculo alucinante de Polska estreia mundialmente na Culturgest e conta com um elenco de luxo: Albano Jerónimo, Bartosz Bielenia, Íris Cayatte, Vera Mantero e Aaron Ronelle.

Em estreia nacional, Julian Hetzel em colaboração com a sul-africana Ntando Cele estreiam “SPAfrica”, espectáculo sobre empatia e extrativismo, que investiga como o capitalismo está associado ao racismo.

Confirmadas estão também novas criações encomendadas de alguns dos nomes mais prolíficos e entusiasmantes da cena nacional: Ana Borralho & João Galante criam “Chat Room”, uma experiência de arte participativa em que o palco se transforma numa sala de conversa virtual onde o público é parte activa; Gaya de Medeiros investiga a esperança a partir do clássico “Café Muller” de Pina BauschJoão dos Santos Martins junta-se à artista visual Ana Jotta e à pianista Joana Sá para construir uma peça para canto e dança a partir de canções Dichterliebe de Robert Schumann; o actor e criador português Cláudio da SilvaCarolina Dominguez e o artista visual e realizador Pedro Paiva, que aqui tem a sua primeira incursão no teatro, apresentam, no novo espaço da ZDB em Marvila, uma peça que reflecte sobre “Woyzeck” de Georg Büchner, um dos grandes textos sobre a perversão humana; a coreógrafa Cláudia Dias apresenta o primeiro capítulo d’“A Coleção do Meu Pai”; o músico João Pais Filipe e o bailarino e coreógrafo Marco da Silva Ferreira revelam “Terra Cobre“, uma encomenda da BoCA sobre a prática tradicional da arte dos chocalhos da vila de Alcáçovas, no Alentejo; a portuguesa Odete e a francesa Caty Olive criam “Il y a une larme dans chaque note et un soupir dans chaque pli”, resultado do primeiro encontro entre as artistas, que explora o universo dos castrati; um ciclo que dá a ver a trandisciplinaridade de Pedro Sousa, que se estreia no território da ópera e apresenta uma instalação sonora no maat. Também no cruzamento com a música, a pop hipnótica de Marina Herlop dá lugar a dois concertos especiais para dois espaços patrimoniais: o Panteão Nacional (Lisboa) e as Ruínas de Milreu (Faro); o jovem artista Herlander dá asas ao excesso numa nova criação musical e performativa para o MNAC.
De regresso à BoCA está também Vera Mantero que, junto de Teresa Silva, estreia a performance “Um Pequeno Exercício de Composição”.

O mexicano Héctor Zamora volta a Portugal com a “Quimera” associada à comunidade migrante, acção performativa no espaço público de Lisboa e Faro, e o argentino Gabriel Chaile concebe uma instalação de grande escala para a Praça do Carvão do maat, articulando cerâmica, performance e participação pública.

BoCA 2023


Programação completa: BoCA 2023
Bilheteira: BoCA 2023

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