O Café-Concerto RUM by Mavy viu-se engolido por uma enchente que fica na memória de quem por lá esteve, no ouvido de quem por lá vive e na espinha dorsal de uma cidade tradicionalmente conservadora mas que não desiste de rockar.

Isto hoje é mesmo para quem gosta” – ouvimos algures ao final de tarde na tabuada de escadas que vai ter ao Mavy ou à porta da saída (dependendo do sentido e/ou do referido gosto).

O que não só não foi mentira como também não foi mal algum, com a sala bracarense a receber uma noite de bilheteira esgotada e de ambiente a rebentar pelas costuras, na companhia de duas bandas que dariam uma bela fotografia do panorama recente da música pesada em Portugal.

A 2ª edição d’Uma Noite Irreversível trouxe os Hetta, os Cobrafuma e o dj set de Techorpsen a um palco que fez jus ao baptismo da rubrica co-produzida entre a Irreversível e a gig.ROCKS! e onde as bandas deram o show com todos os ingredientes que o rock pede à mesa: não faltaram moches, nem crowdsurfismos, nem finaça derramada em cabos encharcados, nem pedidos de mais uma (finaça e música) sabendo que a mesma jamais durará para sempre.

Num belo arraial que tinha tudo do que era minhoto, e que contou ainda com a curiosa presença de Celine Marie (tatuadora) e Diogo Ferreira (hairstylist) a fazerem dos dotes dois live-acts que decorriam (e bem) em simultâneo com a jarda, cedo percebemos ao que íamos (vale o que vale) e qualquer primeiro minuto de um concerto de Hetta explica muito bem este feeling.

Alías, são mesmo esses os únicos 60 segundos de sossego que tivemos, por entre feedbacks de guitarra e uns perlimpimpins sonoros que fazem de estrugido enquanto o vocalista mira sereno e impávido para um público para qual se prepara para saltar em cima em pouquíssimo tempo.

Este gajo é maluco” – ouvimos, o que não só não é mentira como também não tem mal algum.

O quarteto do Montijo deu mais uma réplica do quão voluptuosa é a experiência de ver Hetta ao vivo, onde pouco mais de 40 minutos parecem um overlap pela história de décadas do punk e seus derivados, tal como cada show dos Cobrafuma nos soa a uma viagem pelas páginas do rock n’ roll em excesso de velocidade, mas de braço de fora e janela aberta a lutar pelo cigarro na boca com o vento.

Do Porto, trouxeram a mescla bem engomadinha de trash, punk, heavy… (whatever, segue e joga) que (re)conhecemos do seu homónimo disco de estreia, cuja grande parte do público também bradou de uma ponta à outra como nos comprovou o uníssono em algumas letras do segundo quarteto da noite.

Uma estreia na cidade dos p’s que, talvez, seja a última, mas o conflito (esse belo e importante maldito) é mesmo irreversível. Até ao final da noite, Techorpsen (alter ego da artista e ilustradora Francisca Sousa) mostrou que não apenas de malhas rock nos soa uma das metades das The Ema Thomas, com um set diverso (ya), dançante (bastante), mas mais do que tudo, ultra fun para aqueles que não baixaram a guarda depois de dois concertos encharcadinhos e ficaram até à última badalada, numa cidade que dificilmente trocará o Si Bemol do sino eclesiástico pela música dos livres.

É pena… soa mesmo bem.

Hetta © shootsounds
Cobrafuma © shootsounds
Techorpsen © shootsounds
Celine Marie © shootsounds
Diogo Ferreira © shootsounds
Uma Noite Irreversível © shootsounds
Uma Noite Irreversível © shootsounds

Hetta | Cobrafuma | Techorpsen | Celine Marie | Diogo Ferreira | Público
© Shootsounds

Foto de capa: “Uma Noite Irreversível”
© Shootsounds

Conteúdo escrito pelo criador de conteúdos Luís Dixe Maquete

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