Aqui, foda-se, o encantamento é genuíno e sem filtros de embelezamento.
Nos eventos Malfeito, podemos sempre contar com uma original simplicidade de quem faz as coisas com a paixão envolvida. Logo um bom começo para tudo correr bem. Depois, as escolhas para este Ano Malfeito marcam o início da temporada festivaleira, apontando para o melhor que se está a fazer actualmente em algumas franjas rock em Portugal. As bandas que ao longo de 3 dias passaram por Fafe, demonstraram que a vivacidade e qualidade da cena rock nacional está num bom momento. Os relatos de “fim de uma geração de ouro da cena rock nacional” foram manifestamente precipitados. No final do Ano Malfeito, surgiu um sentimento e sensação que em Fafe existe um grupo de sobreviventes rock, que, quase como um farol, iluminam o trajecto do que se vai passar nos palcos nacionais. Foda-se, isto é um evento rock ainda em estado puro, onde tudo se passa na “1ª fila“, sem merdas nem pseudoglamours criados artificilamente. Aqui, foda-se, o encantamento é genuíno e sem filtros de embelezamento. A esperança do rock resiste em Fafe.
A abertura da edição 2023 esteve a cargo dos electrizantes Mike Vhiles, banda que anda a empolgar os públicos nesta tour de apresentação do muito bom LP de estreia “Mystic Dream Sequence!“. O disco promete figurar entre os melhores do ano a nível nacional e os concertos confirmam a carga positiva. São, muito provavelmente, uma das bandas revelação nacional dos últimos 12 meses.
A fechar a 1ª noite esteve a DJ Cadê Carol.
Para o 2º dia de festividades Malfeito, estava reservado um alinhamento que abria com MДQUIИД e Unsafe Space Garden, dois projectos que empolgam e prometem marcar, no presente, os palcos nacionais. Espero brevemente ter a oportunidade irreversível de destacar ambos, seja em formato de crónica individualizada ou entrevista. É por aqui que passa o futuro da modernidade rock nacional. Para fecho da noite, encontrava-se guardada uma espécie de celebração Malfeito com os 800 Gondomar. É evidente a relação, diria mesmo umbilical, entre banda e evento. Foi um momento de festa, solenidade, farra e emoção.
O 3º e último dia Malfeito abriu com Solar Corona (que já passaram pela Irreversível) em lançamento da sua tour europeia. O quarteto demonstrou em Fafe que são a banda rock nacional em melhor momento de forma e que outros palcos lhes deveriam estar reservados. Espero que a actual tour traga à banda aquilo que este Portugalzinho não oferece.
Mantendo o tom de todo o evento, numa aposta no que de melhor se faz actualmente na música indie nacional, seguiram-se os Summer of Hate. Tenho acompanhado atentamente o trajecto da banda, mas este foi o 1º gig a que assisti ao vivo. Confesso que foi difícil alhear-me da energia com que fiquei no final de Solar Corona e mudar o foco. Os Summer of Hate não tem culpa disso e fiquei com um amargo de boca, pois tinha, e tenho, fortes expectativas para este projecto.
Para fecho de concertos do festival da resistência rock, estiveram os Hetta. A banda triturou, moeu e esmagou o Ano Malfeito, não deixando nenhuma dúvida que estavam ali para deixar pegadas no tecto e cicatrizes pelo público.
Por entre concertos e a fechar a noite de sábado, esteve o DJ A boy named Sue a espalhar rock. Ali algures, a certa altura, cantámos os parabéns ao Malfeito, haviam bolos e foram sopradas velas.
Em resumo, venham mais anos Malfeito.
*foto de capa Francisco Cabrita
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