Documentário: “ADC 35 Anos – Uma História em Movimento”

Dia 15 de Junho, no Ginásio Clube de Corroios, será apresentado o documentário “ADC 35 ANOS – UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO”, com realização de Fátima Rocha. A noite conta também com um concerto dos AMEEBA, que irão apresentar temas do seu segundo álbum, a sair em Setembro e intitulado “Ad Mortem Festinamus”.

21:00h:
Abertura de portas

21:30h:
Documentário “ADC 35 ANOS – UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO

23:00h:
Concerto de AMEEBA


“Há casos curiosos de longevidade e persistência, aos quais se conseguem aliar integridade e insubmissão às leis do mercado. Esse é o caso da Anti-Demos-Cracia (ADC, para os amigos), editora independente portuguesa, sediada – desde as suas mais remotas origens – na Aldeia de Paio Pires, e que celebrou, em 2023, os seus 35 anos de existência, num caso único em Portugal, e raro noutras partes do mundo.

Decorria, então, o Ano da Graça de 1988, quando o colectivo sonoro Varples Pravles toma a peregrina decisão de criar um sêlo para, dessa forma, poder lançar, sob a sua própria égide, as edições que pudessem resultar do seu amplexo criativo. Tal acto, veria a luz do dia em Janeiro de 1990, e seria baptizado como “O Convento da Misantropia”, auferindo do número de catálogo ADC 000.

Não tardou muito para que o conceito evoluísse para outros desígnios e o dar corpo a diferentes sonhos e epifanias… Assim sendo, e durante as décadas que se seguiram (pontuadas por alguns hiatos temporais entre as suas publicações), vários trabalhos de autor ou compilações, incluído projectos nacionais e estrangeiros, foram alargando o seu catálogo

Usufruindo do beneplácito da fita-magnética, como suporte material pra proceder aos seus registos, no decorrer da sua longa actividade, passou a recorrer ao formato digital, quer ao converter, para esses moldes, a maior parte do acervo original, quer ao facultar novos exercícios criativos originais. Aliás, frise-se que practicamente todo o seu catálogo se encontra disponível para descarga gratuita, política que esta chancela faz questão de manter, sempre que possível.

Já tendo alcançado o patamar das 125 obras, no seu amplo mister estão abarcadas as tonalidades mais experimentais, radicais, industriais, obscuras ou negras da Primeira Arte, mas nunca excluindo alguns núcleos sonoros mais ligados a correntes Folk ou mesmo com dialécticas mais aproximadas de um Pop/Rock underground e insubmisso, numa demonstração de um ecletismo sóbrio e denodado, mas sempre, sempre, mais à margem.

Não se trata, portanto, de música fácil, a que se encontra nas suas edições.

Não é para todos os ouvidos nem para todos os gostos. Não é produto comercial, nem é feito com a intenção de o ser. É sim, música para mentes inquietas, inteligências incansáveis, ouvidos curiosos e almas rebeldes (passe-se o lugar comum). Aliás, note-se que nenhuma outra editora alternativa que por cá tenha emergido, conseguiu sobreviver às vicissitudes do mercado, ao desinteresse geral dos meios de comunicação social, às complicações gerais da vida, e a toda a série de obstáculos que um selo desta natureza tem que, forçosamente, enfrentar no seu dia-a-dia, e que em muito são, também, produto das opções éticas, estéticas e sonoras tomadas, não só aquando da sua génese, mas, e talvez mais importante, ao longo de todo o seu percurso.

Todo este património, é colorido, ainda, através do cuidado despendido na elaboração dos invólucros, grafismos, capas, muitas delas únicas para cada exemplar, recorrendo-se as materiais tão fora do comum como o barro, a madeira ou até mesmo limalha de ferro… Mais recentemente, o colectivo editorial alargou ao seu espectro de publicações novos materiais para neles insculpir os seus manifestos: o Compact-Disc, o livro, o vídeo, a USB Drive… Paralelamente, estabeleceu parcerias com congéneres suas, quer estrangeiras (a brasileira Lunare Music e a italiana Ephedrina), quer nacionais (Pós-80’s e Thisco), dando também os primeiros passos para um enquadramento de âmbito mais legal, contando, alguns dos últimos lançamentos, ou com licença outorgada pela Sociedade Portuguesa de Autores (que inclui o tributo a Sétima LegiãoSaudades De Uma Voz No Deserto” e o álbum “351 ”, pelas mãos do projecto Spreader), ou através da atribuição de ISBN/Depósito Legal (o recente caso do livro “Uma História Em Movimento – Catálogo”, com texto pela pena deste vosso humilde amanuense, e grafismos e paginação a cargo de Carlos Paes).

É, portanto, para celebrar tão auspiciosa efeméride, comemorando mais de três décadas e meia, que, já neste dia 15 de Junho, no Ginásio Clube de Corroios, que se irá celebrar a apresentação do vídeo-documentário “ADC 35 anos – Uma História Em Movimento”, realizado por Fátima Rocha, e que será acompanhado por uma actuação a cargo dos Ameeba, que irão apresentar o seu segundo longa-duração, intitulado de “Ad Mortem Festinamus” (a sair em Setembro). Para além dos Ameeba, outros frutos estão planeados e previstos para serem colhidos ao longo dos próximos tempos, incluindo o já citado livro, demonstrando que a ADC se encontra bem viva e pronta para enfrentar novos desafios…

Não convém que toda a gente leia as páginas que se seguem; só alguns hão-de saborear sem perigo este fruto amargo. Por consequência ó alma tímida, antes de penetrares mais longe em tais domínios inexplorados, dirige os teus passos para trás e não para a frente.”

Isidore Ducasse, Comte de Lautréamont, in «Cantos de Maldoror»

Nota: alguns trechos ou parágrafos aqui publicados, foram retirados, ou ligeiramente adaptados, das formas originais que podem ser encontradas no manuscrito a que já aludimos.”

Texto escrito pelo criador de conteúdos convidado: Paulo Coimbra Martins

ADC 35 Anos
WP Radio
WP Radio
OFFLINE LIVE