Para mim, sempre houve um vínculo afetivo entre os lugares e as músicas. Não consigo dissociá-lo, e, quando viajo, as memórias mais duradouras e intensas são aquelas em que a música esteve presente. A música está “ad aeternum” na minha mente.
Fenícios, gregos, romanos, bizantinos, árabes e cristãos, contribuíram para a essência de Ibiza, magnificamente localizada no imenso azul do Mediterrâneo. Três mil anos de história foram condição fundamental para que a ilha espanhola se tornasse Património Mundial da Unesco.
Os discípulos do movimento hippie – estilo de vida pacifista e underground que teve origem na costa oeste dos Estados Unidos – após se terem propagado por outros países do mundo, encontraram abrigo neste tesouro europeu durante os anos sessenta. Os hippies procuravam essencialmente, paz, amor e música. Nas décadas seguintes, Ibiza cimentou-se como destino de pintores, intelectuais e músicos. Por esta altura, Jimi Hendrix, Eric Clapton ou Frank Zappa, eram vistos a passear pela areia branca das praias ibicenses.
Mais recentemente, a encantadora Pitiusa, nome atribuído pelos gregos, transformou-se num destino absolutamente incontornável para os fãs da música eletrónica, que procuram o som dos melhores djs internacionais, ora nos clubes, ora nos bares de praia, ora ainda, nos sítios mais secretos e surpreendentes.
Os menos observadores, deixam-se levar pelo estereótipo erróneo de massificação turística generalizada que alegam assolar Ibiza, mas a ilha espanhola, possui ainda inúmeros locais de enorme tranquilidade, especialmente junto às costas norte e nordeste, preservando toda a sua simplicidade, longe dos holofotes da popularidade. A “Isla Blanca” tem praias e resorts inacreditáveis, chiringuitos e discotecas famosas, mas aquilo que lhe confere uma aura intemporal, é o legado monumental dos povos que a habitaram e a música que, invariavelmente, percorre todos os seus lugares, todos os seus caminhos…
Eivissa – nome da terra num dos idiomas oficiais das Baleares, o catalão – apresenta um leque de muralhas do século XVI que protege um magnífico castelo situado mesmo no topo da cidade antiga, Dalt
Villa. Séculos de história convivem harmoniosamente com a modernidade e, as ruas e vielas empedradas, confluem em pracinhas e larguinhos encantadores, em que as mesinhas dos charmosos restaurantes se dispõem pela escadaria milenar. São inequívocas as reminiscências das diferentes civilizações, neste lugar incrivelmente magnético.
Sente-se o peso da história em Dalt Villa. Lojas vintage e elegantes boutiques, presenteiam sempre os transeuntes com alguém selecionando música …desde a ambient music ao techno. As esplanadas e os restaurantes de altíssimo nível, localizados mesmo no sopé da encosta, gozam de uma vista de sonho para o Mediterrâneo. O casario labiríntico deambula pelas igrejas, palacetes medievais, museus e galerias de arte. A comunhão entre os nativos, os músicos e os intelectuais que vieram morar para a ilha, é perfeita. Oferecendo também alguma irreverência, é sem dúvida, uma zona de equilíbrio e de serenidade, em que a música é condição sine qua non.
Descendo pelas ruas de Eivissa, as laranjeiras e os limoeiros parecem adornar as casinhas brancas com as varandas floridas. Junto ao mar, iates ostensivos deslizam suavemente no Mediterrâneo e, a atmosfera, é extraordinariamente internacional. Esta zona repleta de bares – uns mais elegantes do que outros – é festiva e as pessoas parecem felizes.
Nenhuma visita a Ibiza fica completa sem o inevitável sunset. A costa oeste, exibindo-se cheia adoráveis enseadas e de colinas cobertas de pinheiros, tem o mais bonito pôr do sol da ilha e, um dos mais reconhecidos em todo o planeta. O ponto mais extraordinário desta parte da bela Pitiusa é o mítico rochedo Es Vedra, fonte de inspiração para muitos compositores e djs que proliferam por Ibiza. O peculiar penedo de trezentos metros de altura, serviu inclusivamente de capa ao álbum Voyager de Mike
Oldfield… há até quem diga que as sereias de Homero circundaram Es Vedra e que a rocha é um pedacinho perdido da lendária Atlântida.
Que privilégio ver o pôr do sol em Ibiza, contemplando a sua beleza e escutando a sua música…sempre a
música…
Terceira edição d´ “As sonoridades das viagens“ na Irreversível.
Miguel Pinho é um reconhecido apaixonado por música e autor publicado sobre viagens.
Conhecendo estas premissas, a Irreversível lançou-lhe o desafio de somar as duas, a música e as suas viagens, numa rúbrica para Magazine.