Para mim, sempre houve um vínculo afetivo entre os lugares e as músicas. Não consigo dissociá-lo, e, quando viajo, as memórias mais duradouras e intensas são aquelas em que a música esteve presente. A música está “ad aeternum” na minha mente.

A Escócia, mais do que qualquer outro lugar no velho continente, é uma nação que se alimenta de música. Tinha inevitavelmente que a visitar, começando pela sua cidade mais famosa, Edimburgo. Musicalmente falando, a capital escocesa, remete-me para a lindíssima melodia Edinburgh Man, dos míticos The Fall. Mark E. Smith, o lendário líder da banda, cantava “I don´t want to be anywhere else, I just wanna be in Edinburgh, I wish i was an Edinburgh man”. No vídeoclipe, Mark E. Smith, percorre inúmeros locais da terra que viu nascer Arthur Conan Doyle, Robert Louis Stevenson ou Sean Connery, percebendo-se o quanto a admira.



Chegado à capital escocesa, a perspetiva tida da Royal Scottish Academy, junto a Princes Street, lembrou-me o filme Trainspotting, especialmente a faixa Born Slippy dos britânicos Underworld. Na película de Dany Boyle, os irreverentes amigos, Renton e Spud, atravessam esta avenida, fugindo das diabruras que cometiam com algum humor e destreza. Creio que a banda sonora do filme, não desiludiu mesmo os melómanos mais exigentes. O segredo para a aclamada cena musical escocesa é a beleza idílica das suas montanhas e bosques, e a autenticidade absolutamente inigualável das suas localidades servindo, naturalmente, de inspiração aos artistas.



Explorando de fio a pavio as ruelas estreitas e medievais de uma cidade carregada de história a música foi sempre a minha confidente. Gosto de falar com as músicas que ouço e com as quais me identifico. Como fiquei alojado em George Street, o primeiro sítio a conhecer foi o magnífico Castelo de Edimburgo, empoleirado num rochedo granítico. Enquanto subia a The Mound e a Ramsay Garden, recordei-me do videoclipe da música já citada, Edinburgh Man, em que o carismático Mark. E. Smith, fazia um percurso semelhante.

Edinburgh Castle | Foto: Miguel Pinho



Já no Castelo, escutava-se o som melodioso e marcante das gaitas-de-foles. Descendo a Royal Mile, nome atribuído a um conjunto de ruas que formam o centro histórico, desde o Castelo de Edimburgo ao Palácio Holyroodhouse, o som indie vindo dos inúmeros pubs acolhedores movia-se por entre os turistas. Reconheci Teenage Fanclub e Primal Scream. Curiosamente bandas oriundas da outra grande cidade escocesa, Glasgow. Entre os muitos sítios a conhecer e a descobrir na capital, os pubs pela Royal Mile, de ambiência informal e divertida, lideram indubitavelmente a lista. Junto ao icónico Palácio Holyroodhouse, residência oficial do rei em Edimburgo, avisto o Arthur`s Seat, uma colina de origem vulcânica, com mais de duzentos metros de altura, onde as personagens do Trainspotting se juntavam para algumas peripécias. Por estes lados, a música que se fazia ouvir, vinha das elegantes moradias graníticas, encantadoramente iluminadas. Onde quer que estivesse, a música acompanhava-me. Há muito que ver nesta metrópole que conjuga na perfeição tradição e vanguarda, mantendo intocáveis as suas tradições e costumes. Edimburgo tem cerca de cinco mil edifícios classificados como Património da Humanidade!



A cidade é ótima para se andar a pé. Termino no bairro de Leith, ao pé do porto de Edimburgo. Edifícios coloridos contrastam com a parte velha da cidade. Galerias alternativas, restaurantes chiques, cafés e pubs, dispõem-se junto ao rio. Parei num pub fascinante, cujo chão de madeira, balcão comprido e mobiliário de cores quentes, oferecem um ambiente caloroso e de algum modo familiar. O whisky, bebida preferida dos escoceses, é, naturalmente, um elemento essencial, tal como a música. Cocteau Twins, Craig Armstrong e Boards of Canada, mas também sons provenientes de latitudes mais próximas do Canal da Mancha deram o mote no gira-discos. Tive uma conversa muito boa com o gerente, à qual se juntaram uns quantos amigos da casa, sobre a influência da música escocesa ao longo da minha vida. Obviamente falamos de Mark E. Smith e da sua cidade preferida, Edimburgo. A cereja no topo do bolo, foi quando fez-se ouvir Edinburgh Man. Atrevo-me a dizer, “I´m an Edinburgh man myself”.

Vista a partir do Edinburgh Castle| Foto: Miguel Pinho


Editorial:
Estreamos hoje na IrreversívelAs sonoridades das viagens“.
Miguel Pinho é um reconhecido apaixonado por música e autor publicado sobre viagens.
Conhecendo estas premissas, a Irreversível lançou-lhe o desafio de somar as duas, a música e as suas viagens, numa rubrica para Magazine.
Numa chamada, na 1ª, o Miguel aceitou o desafio.

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