Para mim, sempre houve um vínculo afetivo entre os lugares e as músicas. Não consigo dissociá-lo, e, quando viajo, as memórias mais duradouras e intensas são aquelas em que a música esteve presente. A música está “ad aeternum” na minha mente.

Londres é tradicional e arrojada, excêntrica e elegante, sofisticada e incrivelmente excitante. O imaginário britânico acompanha-me desde tenra idade: o típico uniforme do polícia britânico, as populares cabines telefónicas espalhadas pelos mais recônditos lugares da Grã-Bretanha, os inconfundíveis autocarros vermelhos e táxis pretos, o clássico chá das cinco e os incontornáveis pubs, onde a conversa e a música são, naturalmente, ponto de ordem.

Londres – Foto Miguel Pinho


É um privilégio verificar in loco que toda a minha fantasia britânica se confirma. Pelos passeios apinhados de gente, deambulam executivos vestindo de forma quase protocolar e sikhs usando turbantes de cores garridas, viajantes atónitos com a monumentalidade que os rodeia e jovens que parecem vindos das passerelles. A cidade é altamente cosmopolita. O planeta inteiro está em Londres.

A capital do Reino Unido, inevitavelmente, está carregada de turistas. O famosíssimo Big Ben, o Palácio de Buckingham, a Torre de Londres ou as inúmeras pontes históricas que atravessam o rio Tamisa, são símbolos da cidade. Mas, os visitantes, procuram também a incontornável roda gigante London Eye, da qual se consegue obter uma visão esplendorosa da metrópole inglesa – o que posso confirmar – ou a panóplia de edifícios ultramodernos, destacando-se a forma piramidal do colossal Shard.

London Eye | Foto Miguel Pinho


Possuindo alguns dos mais importantes museus e salas de espetáculo do mundo, a que se junta uma extraordinária diversidade étnica, toda a Londres é inigualável na oferta cultural e gastronómica.
Todavia, dada a sua dimensão gigantesca, concentro a minha atenção nos bairros de Mayfair e Soho, contando sempre com a música. Aliás, devo dizer que tenho uma canção para cada emblemática imagem londrina. Quem gosta de música gostará com toda a certeza de Londres.

Mayfair, situado entre o Hyde Park e o Soho, é um dos endereços aristocratas e sofisticados da cidade inglesa. Acolhe diversos palácios e hotéis lendários, galerias de arte e lojas de alta-costura. A portentosa rua comercial de Regent Street – onde os Beatles fizeram a sua última apresentação pública no cimo do
telhado da Apple Corps, perpetuando ainda mais o tema “Dont Let Me Down” – e a New Bond Street, uma das mostras londrinas do consumo de luxo, fazem de Mayfair uma das melhores zonas de compras em toda a cidade.


Em Mayfair, umas poucas centenas de metros percorridos bastam para sairmos da azáfama consumista e nos encontramos perante praças graciosas e jardins encantadores.
Numa das suas ruas, nomeadamente em Brook Street, viveu Jimi Hendrix. A rua, marcadamente residencial, contempla edifícios vitorianos, na generalidade de cor branca, castanho-claro ou laranja. A história conta que o mítico guitarrista morou durante os rebeldes anos 60, no mesmo prédio que tinha
vivido Georg Haendel, genial artista barroco, autor de obras estupendas como Sarabande ou Hallellujah from the Messiah. Rezam as crónicas que a certa altura, Jimi Hendrix terá visto o fantasma de Haendel flutuando de peruca pela casa. Londres oferece-nos estas preciosidades. “An angel came down from
heaven yesterday
“, dizia Hendrix em Angel.

Encostado a Mayfair, fica o bairro do Soho, verdadeiro epicentro multicultural do West End e mundialmente conhecido pela sua irreverência e vida boémia… evocando-me a canção dos Pet Shop BoysThe East End Boys and West End Girls“. Dentro das suas fronteiras algo indefinidas, eis Carnaby, cuja dúzia de ruas pedonais foram berço do movimento punk e local de culto, por exemplo, dos Rolling Stones e dos Beatles. Foi também no Soho que o imortal David Bowie gravou a mítica canção Space Oddity.

Percorrer as ruas do Soho, é, pois, desembrulhar a história da música, e para isso, muito contribuem as várias lojas de discos. São tantas e tão distintas. A Phonica Records, a Sister Ray, verdadeira instituição do Soho e eternamente lembrada na capa do álbum dos OasisWhats the story morning glory“, a Reckless Records, ou, aquela que para mim é a mais charmosa, a Sounds of Universe, cuja fachada é um convite categórico à nossa entrada.


Bares na moda, teatros e clubes de jazz, emprestam intensa vida noturna a esta zona da capital da Inglaterra.
Despeço-me de Londres, noite dentro, percorrendo os enigmáticos e
nostálgicos caminhos do Soho…



Segunda edição d´ “As sonoridades das viagens“ na Irreversível.
Miguel Pinho é um reconhecido apaixonado por música e autor publicado sobre viagens.
Conhecendo estas premissas, a Irreversível lançou-lhe o desafio de somar as duas, a música e as suas viagens, numa rúbrica para Magazine.

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