Não é o disco do ano.
É o disco que ficou a tocar enquanto o ano acontecia.
Foi no fim de um concerto de Baleia Baleia Baleia no Maus Hábitos, já com a noite em modo de sobrevivência, que o “Das Margens Lamacentas da Tuga“ irrompeu pelo meu olhar. Duplo, caixa grossa, capa em foto colagem, aquele ar de coisa que não devia existir em 2025. Fiquei com um exemplar.
Colocado a rodar, depois da paixoneta pelo objeto em formato bootleg, veio a música, a atitude e um certo tipo de ternura disfarçada de sarcasmo. O mesmo que assisti nesse concerto. O mesmo que se assiste nos concertos da dupla Manuel Molarinho & Ricardo Cabral.
A Irreversível não faz reviews a discos. Nunca fez. Mas há momentos em que as exceções se impõem pela teimosia dos factos. Mesmo que no bandcamp diga 2024, este disco só começou a existir verdadeiramente em 2025, quando lhe pude tocar, ver e sentir a energia que exalava. Como se cada uma das 50 ou 60 cópias disponibilizadas, mesmo não numeradas ou individualizadas, fosse única.
O título, “amigavelmente roubado” ao “From the Muddy Banks of the Wishkah” dos Nirvana, é a homenagem irónica, a coincidência redonda dos trinta anos da morte de Cobain. Mas a chalaça não fica aí. O que Baleia Baleia Baleia fazem é uma tradução ao estilo idiomático. Onde os Nirvana tinham o lodo do seu grunge no contexto americano, aqui há o nosso, do cultural e burocrático, ao político e social da tuga. As margens lamacentas não são cenário ou quadro, são um país inteiro.
Há ainda um ponto de encontro emocional, quase afetivo. Os Baleia Baleia Baleia fazem questão de o sublinhar. “É simultaneamente o nosso grito de ajuda, e a nossa maneira de ajudar!”
(Fotos: Baleia Baleia Baleia @ Maus Hábitos © torstudio)
O som acompanha a ideia. Punk-pop. Direto, rude e claro, tão claro que parece cuidadosamente descuidado para não se perder em algo que não quer ser. Baixo e bateria bastam; o resto está nas vozes e nas entrelinhas. Há sátira e ironia, mas também há convicção. A crueza e naturalidade de quem não tenta representar nada, só existir, sem merdas.
Em tempos de lançamentos higiénicos e práticas montadas para as redes sociais, “Das Margens Lamacentas da Tuga” soa a documento involuntário sobre o presente. Não é o disco tuga do ano, é o disco que ficou a tocar enquanto o ano acontecia.
Reel do dito concerto:
Baleia Baleia Baleia @ Maus Hábitos
“Das Margens Lamacentas da Tuga“
Bootleg @ bandcamp
Entretanto, por estes dias, surgiu “NPC” o primeiro avanço de “Outra Vez Arroz”, disco que chega em fevereiro de 2026 com selo Saliva Diva.
(…) e saiu um videoclipe em jeito de celebração de 10 anos de banda, que vão ser festejados em vários palcos do país até ao final do ano!
Baleia Baleia Baleia
29 Novembro – RCA, Porto
5 Dezembro – BBC, Funchal
20 Dezembro – ADF, Lisboa
27 Dezembro- Virada Gandaresa, Cadima



