Enquanto viajo pelo mundo mágico da 7ª arte, por entre obras recentes ou algumas que já saíram no século passado, tento convencer-vos sem rodeios a verem os filmes que mais gostei.

Bem sei, que para muitos de vocês, o género de filmes que escolhi para inaugurar esta rubrica pode parecer distante, mas senti que devia resgatar a infância para esta primeira sessão. Apesar de associarmos filmes de animação a um público mais jovem, os dois filmes que escolhi, apesar de centrados em jovens personagens, estão longe de serem infantis. São obras que transmitem mensagens tão diretas quanto profundas para quem as queira receber.

Obviamente, e com muito orgulho, refiro-me à curta nomeada para os ÓscaresIce Merchants“, de João Gonzalez, disponível na plataforma de streaming HBO, e ao mais recente – embora tristemente último – trabalho do génio Hayao Miyazaki, dos estúdios Ghibli, atualmente em exibição nos cinemas.

Ice Merchants” é uma lufada de ar fresco, direto e literal. Com uma animação extremamente bem trabalhada e cores tão bonitas quanto a própria história, esta curta oferece uma experiência visual única. A banda sonora é um dos pontos fortes. Espacial, fria, fazendo-nos sentir em queda livre do vazio do espaço em direção ao abraço da nossa família mais antiga: a mãe Terra. A animação fluída e a orquestração, obra de João Gonzalez e Nuno Lobo e a sonoplastia de Ricardo Real, Ed Trousseau e Joana Rodrigues, transportam-nos para dentro daqueles belos e coloridos frames, permitindo-nos viver a história de um pai e filho que diariamente trabalham no seu próprio negócio de gelo. Se acham que a tese é tão simples, aconselho vivamente a assistirem, pois se tudo em “Ice Merchants” é incrível, a mensagem é a cereja, o recheio e a cobertura do bolo.


Se “Ice Merchants” apresenta uma tese simples mas profundamente impactante, o último filme dos estúdios Ghibli, “O Rapaz e a Garça“, é um buraco negro ardente de complexidade imaginária e dores de crescimento. Nada menos se esperava do grande Hayao Miyazaki. Vi praticamente todos os filmes deste estúdio, mas devo dizer que este é uma mala de viagem que, quando aberta, nos transporta para um mundo tão elaborado quanto absurdo. A animação, rica em pormenores fluídos, os personagens carismáticos e com mensagens bem vincadas levam-nos numa viagem ascendente até ao pináculo onde repousa o criador, obrigando-nos a esquecer o mundo real para vivenciar um universo fantástico. A banda sonora, obra de Joe Hisaishi, leva-nos a um mundo de saudade e conforto, mas ao mesmo tempo a sua ausência faz-nos cair na realidade e tensiona-nos a viver o presente.


A magia da 7ª arte faz-nos mergulhar num mundo de possibilidades e histórias como estas, e o que mais me faz feliz é a possibilidade de partilhar estas experiências convosco, mesmo que sejam diferentes do que é esperado. Mas afinal, se esperarmos o indiferente, não é previsível? A absorção destas histórias acaba por se moldar às histórias de cada um de nós, e é isso que torna o cinema tão especial para mim.



Estreamos hoje na Irreversível a nova rubrica, de autoria de Tiago Quelhas, intitulada “Com olhos de ver“.
O Tiago lançou recentemente a sua primeira curta-metragem, “The Burning Giraffe“, e é um parceiro da Magazine, contribuindo com os vídeos e as fotografias © Pulsar. Esta evolução para uma rubrica que irá abordar a 7ª arte é apenas uma expansão natural nesta ligação Irreversível.

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