Após apresentarem os singlesVapor” e “Profunda“, os Galgo editaram hoje, 29 de fevereiro, o seu novo álbum intitulado “Denso“, com o selo da Saliva Diva.

Há cerca de uma década os Galgo, Alexandre Moniz, Joana Komorebi, João Figueiras e Miguel Figueiredo, têm-se dedicado a experiências sonoras, num território entre o arriscado e o simples. Nunca se limitaram a ser apenas uma banda, mas sim um projeto que, desde os álbuns até às actuações ao vivo, criaram trajectos opostos à unanimidade entre públicos. Não parece que isso faça qualquer diferença no que produzem, e ainda bem, pois têm características que tornam o som de Galgo distintivo.

Vapor“, o primeiro single do novo álbum “Denso“, surpreendeu-me. As bases de Galgo, as tais características distintivas, estão lá, mas, numa opinião sujeita a qualquer contraditório, há uma evolução, algo diferente. O segundo single, “Profunda“, solidificou as expectativas e, nesse momento, quis ouvir o novo disco antes mesmo do lançamento. Sou naturalmente curioso, mas senti um genuíno desejo de conhecer o álbum.


Denso” promete ser um dos melhores lançamentos nacionais de 2024. Sei que é sempre arriscado, e até cliché, afirmar isso, ainda mais considerando o que falta de 2024, mas o impacto foi esse.

A próxima fase será satisfazer a curiosidade de ver como os Galgo vão apresentar e interpretar “Denso” ao vivo. Já foram anunciadas várias datas, incluindo apresentações do disco e a inclusão em festivais como o Basqueiral ou o Impulso. Entre a fase de ouvir o disco e a intenção de assistir ao vivo, fiz algumas perguntas aos Galgo para entender melhor o momento actual da banda e, como é habitual neste espaço e nestas entrevistas, conhecer e apresentar um pouco mais sobre quem são estes Galgo a quem os está a apanhar pela primeira vez.

Galgo © Ana Viotti
Galgo © Ana Viotti

Gostamos do que é abrasivo e que tem jarda.

Galgo

Irreversível / Francisco Barros – Olá malta, muito obrigado pela disponibilidade para esta entrevista e parabéns pelo disco, gostei bastante. A 1ª vez que vos apanhei foi no Indie Music Fest de 2016, confesso que tive de pesquisar o ano, mas a edição recordo com muito carinho por várias razões, havia uma crónica que ficou perdida na internet… Vocês foram à data, naquele dia, juntamente com os Ghost Hunt, os meus 2 maiores destaques. Desde aí que acompanho o vosso trabalho. Quais as maiores diferenças que podemos encontrar/esperar nos Galgo 8 anos depois, isto no ano em que celebram 10 anos de existência…
Galgo – Obrigado Francisco, é sempre muito gratificante saber que temos público e ouvintes como tu. Honestamente, é sempre muito difícil fazer essa retrospetiva e análise muito clara e óbvia dessas diferenças, pois nós simplesmente, e na maior parte do tempo, limitamo-nos apenas a fazer música e a “existirmos”, mas claro que em 8 anos muita coisa pode mudar.
É natural, com o passar do tempo e vindos de um espaço e tempo tão juvenil, que hoje cada um de nós e também como grupo, estejamos diferentes. O tempo, por exemplo, é uma variante que nos prende. Quando começámos, costumávamos ficar até às 4 da manhã a ensaiar coisa que hoje não é possível porque temos mais responsabilidades e por isso menos tempo. Para além disso, as nossas referências também são hoje diferentes e isso influência bastante o processo criativo. Quando somos mais novos temos aquele desejo de pertencer a um nicho ou grupo social porque temos aquela fome de nos definir enquanto jovens. É normal. Faz parte do crescimento. Mas, por isso, ganhamos anticorpos a alguns géneros musicais ou achamos que o género X ou Y é melhor que os outros. Acho que tudo isto é normal mesmo para quem não faz música. Hoje é diferente. Esses anticorpos estão mais dissipados e, portanto, logicamente conseguimos aceitar e até gostar de vários géneros musicais. E isso é uma peça fulcral para o processo criativo que se traduz depois no resultado. Que por sua vez se traduz numa mescla ainda maior, ou não. Pode afinar em alguns aspetos como no próprio processo de produção de um álbum. Trabalhar mais em pós-produção ou ter mais atenção aos detalhes podem ser algumas dessas diferenças.

Irreversível – Qual o conceito por detrás de “Denso“?
Galgo – Existe uma semelhança, quase homónima, com a palavra dance, que, ao mesmo tempo torna esta palavra anglicana, mais pesada. Quase como uma dança pesada. Nós os 4 gostamos sempre de uma dança pesada seja a que horas for. Se pensarmos também em dois objetos com o mesmo volume, só que um é mais denso, esse acaba por ser mais pesado, certo? Por que será? Está carregado de algo. Um objeto ou corpo poderá ser denso, mas um ambiente ou estado emocional também o poderá ser, certo? E se pensarmos uma sociedade também pode ser densa. E hoje é denso. É um pouco por aqui.
Acaba por abordar todo este conceito da própria palavra “Denso” numa perspetiva mais geral ou externa a nós, mas, ao mesmo tempo numa perspetiva mais biográfica, se quisermos.

Galgo © Ana Viotti


Irreversível – Espero apanhar-vos ao vivo brevemente, já foram anunciados, por exemplo, para o Basqueiral. O que poderemos esperar dos concertos? Esperam alguma evolução nos temas quando os tocam ao vivo?
Galgo – Aqui entre nós já experimentámos alguns dos temas ao vivo e claro que já fizemos também algumas adaptações/alterações. Quem já nos viu, sabe que gostamos de criar catarses festivas quando tocamos ao vivo. Gostamos do que é abrasivo e que tem jarda. E, portanto, apesar dos anos que passaram, e voltando à primeira pergunta, essa foi provavelmente uma variante que não mudou, e que estamos a tentar também trazer para este novo disco ao vivo.

Irreversível – Como foi o processo criativo para a criação das composições e como
decorreu depois a gravação?

Galgo – Este foi provavelmente o processo que mais fugiu ao nosso habitat natural de gravar tudo, ou quase tudo, em apenas um take. Desta vez decidimos investir mais em pós-produção e, consequentemente, num processo mais racional criativo. Pensar mais na sonoridade e na estética que queremos abordar, ou pensarmos na utilização de outros instrumentos, foram coisas que desta vez estiveram bastante presentes neste processo. Tanto de criação como de gravação. Aliás, quase que aconteceram ao mesmo tempo. O Pedro Ferreira foi uma peça importantíssima no processo. Sem ele este álbum não seria possível. Não só tornou as nossas ideias reais como ainda as melhorou, trouxe bastante input criativo e ainda compôs uma música com uma Jam nossa, que ficou incrível. Este disco também é dele.

Irreversível – Quais são as vossas fontes de inspiração?
Galgo – Ui… É difícil dizer. Lá está, e voltando novamente à primeira pergunta (tudo volta ao início),
hoje é já quase indetetável de onde vêm as fontes de inspiração. E fontes de inspiração é ainda mais abrangente que influências ou referências. Existem muitos artistas que nos influenciam e que estão espalhados por várias correntes, mas diria que uma fonte de inspiração pode ser qualquer coisa, desde os dois cães que eu tenho (Trevo e Lua (Não, nenhum deles é um galgo)), até àquele almoço na tasca preferida. Vale tudo e não dá para enumerar. Mas esses dois são bons exemplos.

Irreversível – Pessoalmente detesto rotular artistas ou bandas, é quase sempre limitativo,
mas por vezes é necessário fazê-lo. Se tivessem de explicar o tipo de som que fazem,
como o descreveriam?

Galgo – Uma dança pesada, abrasiva, mas sensível quando tem de ser.

Irreversível – O que é irreversível?
Galgo – O lançamento deste disco. Vai mesmo acontecer e ainda nem acreditamos. Por isso é que
é boa ideia dizer isto agora para fazer esse trabalho de aceitação.

Galgo Cartaz


*Foto de capa: Galgo © Ana Viotti

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