O regresso do Em Bruto arrancou da melhor forma com a experimentação sonora de Samuel Kerridge no Understage do Rivoli.

Understage Rivoli | © Jose Caldeira / TMP


A estética singular do Understage provoca imediatamente um ambiente por si mesmo, do qual não podemos fugir. A escolha do local roçou o perfeito para esta noite de electro-indie-experimentação. Há chegada já estavas a ficar imerso em alguma coisa.

Para esta viagem devia existir um pré-aviso à entrada: “Deixa-te levar!

Escrever uma crónica sobre uma actuação de Samuel Kerridge é uma tarefa arriscada. Aqui estou eu, 13/14 dias depois da noite em questão, a tentar mais uma vez após diferentes rascunhos apagados, uns carregados de lugares-comuns, outros de definições arrojadas, acabando sempre com projecções semi-petulantes aqui e ali. Cheguei a pensar em desistir, mas ia acabar por me arrepender de não destacar este momento de fuga à banalidade e ao trivial, que foi a passagem do britânico Samuel Kerridge pela cidade do Porto.

Samuel Kerridge | © Jose Caldeira / TMP


Samuel Kerridge oferece uma diversificada paleta de construções sonoras, do noise à batida sustentada, do riff ao feedback, da rave ao club, num misto de shoegaze com in your face, sem nunca ficar colado ou comprometido a nada. Palavras como extravagante, bizarro, raro, característico ou original, cabem todas na viagem conduzida por Samuel Kerridge ao seu complexo universo, que, fácil escrever após ter assistido pela primeira vez, é muito melhor de ser feita ao vivo.
Para esta viagem devia existir um pré-aviso à entrada: “Deixa-te levar!“. Algo que não aconteceu nesta noite no Porto para a maioria da audiência. Sentiu-se que o público estava maioritariamente ali para assistir e aproveitar o momento, numa espécie de contemplação auditiva, muito mais que fechar os olhos e sentir a trip natural, ou dançar em ritmos esbardalhados conduzidos por Kerridge.
Quando, por ali perdidos em momentos de maior entusiasmo, o público reagiu adequadamente ao som que saía do PA, correspondendo a uma expectativa que levava para esta noite, vimos um Samuel Kerridge a incentivar a mais desses instantes. No entanto, que isto não soe a um qualquer género de critica negativa, pois este escriba quando assistiu a Slayer pela 1ª vez, pouco mais fez que bater o pé e abanar a cabeça, estava ali no Drámatico de Cascais para reverenciar, muito mais que para curtir no mosh. Ou, daquela vez que comecei sentado na bancada a assistir à actuação de Chemical Brothers, era a 5ª ou 6ª vez que assistia ao duo, seria dessa que ia apenas usufruir de todo o show sem acabar suado ao ponto de dar para espremer a t-shirt (o que voltou a acontecer). Por isso, compreendo que a passagem de Samuel Kerridge pelo Porto tenha sido muito mais um momento de captação e admiração, do que de desordem e balbúrdia. A conclusão a que chego, se me permitem a audácia, é que são necessários mais gigs a rasgar fronteiras sonoras.

Samuel Kerridge | © Jose Caldeira / TMP


Enquanto abandonava o Understage em direcção aos Aliados e à normal cadência, ao mesmo tempo que já antevia a ressaca da descompensação de adrenalina no dia seguinte, estava estampado no meu rosto um indisfarçável e rasgado sorriso de satisfação.



*foto de capa – Samuel Kerridge | © Jose Caldeira / TMP

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