No passado dia 13 de Abril a Casa da Música, no Porto, recebeu na Sala Suggia os concertos de Sereias e Sleaford Mods.
A noite arrancou com os Sereias. A banda já foi alvo de crónica Irreversível no Basqueiral 2023 e no Rodellus 2023, ambas escritas por Gonçalo Morgado e nas quais me revejo, sendo que numa delas tenho até um pequeno papel na narrativa do cronista. Sereias é um dos mais estimulantes e particulares projectos de criação nacional da actualidade, tenho acompanhado atentamente desde que os apanhei ao vivo pela primera vez.
Quando foram anunciados como banda de suporte ao gig de Sleaford Mods, na Casa da Música, a minha ansiedade pelo 13 de Abril aumentou. Já tinha apanhado com os Sereias desde palcos de festivais a palcos de venues. Este, na Sala Suggia, despertava um renovado interesse. A apresentação superou as expectativas, nada que surpeenda perante a qualidade dos envolvidos e da sala, mas cimenta os Sereias como projecto para qualquer palco. Para todos os palcos.
Seguiam-se os Sleaford Mods. O duo de Nottingham já tinha passado por Portugal algumas vezes, ainda o ano passado em Paredes de Coura, mas, por esta ou aquela razão, tinha acabado sempre por falhar todas as anteriores actuações. Acrescentar que, desde amigos próximos até à crítica especializada, as vindas a Portugal da dupla nunca foram unânimes no que toca à qualidade ou aos atributos que se esperavam. Apesar disso, esta era uma experiência há muito aguardada para alguém que, nos últimos anos, encontrou nas suas músicas uma banda sonora para os altos e baixos da vida. Encontrei em Sleaford Mods uma voz crua e honesta neste mar de conformidade e cinismo.
Por isto tudo, estar na iminência de vê-los ao vivo, no palco da Sala Suggia – a escolha de os trazer a este espaço foi, para muitos, de diferentes polos e camadas, das elites aos desajustados, uma surpresa tão inesperada, quanto criticada e alvo de reprovação – revelou-se um pico de emoção e adrenalina.
Olhando para o palco que em breve receberia Jason Williamson e Andrew Fearn, uma questão surgia na minha mente: estando os Sleaford Mods a actuar na Casa da Música, estaríamos a assumir que eles já não são um projeto das/e para as franjas? E, ao mesmo tempo, ao escrever uma crónica sobre o assunto para a Irreversível, um espaço que também emerge das margens do cenário cultural, estaria eu também a assumir exactamente o mesmo relativamente à dupla?
A resposta, descobri ao longo do concerto. Os Sleaford Mods, com o seu som magnetico e afiadas críticas sociais, continuam de facto a ocupar um espaço para as franjas, continuam a ser a voz daqueles que muitas vezes são apelidados de desajustados. A diferença, actual, é que somos cada mais os desajustados e a sentir de onde tudo aquilo desponta.
E quanto à Irreversível, esta Plataforma independente de divulgação artística e cultural que também cresce a desafiar as convenções? Talvez estejamos ambos no mesmo tipo de jornada, navegando entre mundos e margens, procurando espaço, tentando sempre dar voz a que outros possam ser ouvidos.
Então ali estávamos, eu e a Casa da Música, testemunhando o desafiar das normas (desde o concerto de Sereias) e a vibrar com uma energia que pode ser descrita como: Sleaford punk-hop Mods.
Dancei, pulei, berrei letras. Acabei todo suado e com perspectivas concretas, parte delas imediatamente reais, relativamente a como o meu corpo iria reagir à tareia.
Enquanto os ritmos e cadências exigiam que a maioria da sala dançasse e as palavras vociferadas eram sentidas na pele, comecei a entender que esta noite ficaria marcada de forma inesquecível, não apenas para mim, mas para muitos dos que ali estavam presentes, não foi somente mais um concerto, foi uma força, uma intenção… Mesmo sendo fã, as expectativas para o gig eram baixas perante os anteriores relatos. Se calhar foi apenas isso… Contudo, em alguns momentos, senti que estávamos todos a fazer parte de algo especial que estava ali a acontecer, e isso é algo verdadeiramente irreversível.