Os Birds Are Indie editaram “Ones & Zeros“, o 6º disco de originais da banda, com selo da Lux Records. A banda de Coimbra anda a apresentar o novo álbum numa tour que já passou por Guarda, Lisboa, Barreiro, Rio Maior, Bragança, Vila Real e Porto. Apanhamos o trio em Braga, no Café-Concerto RUM by Mavy, antes de rumarem a Coimbra e a 6 datas consecutivas em Espanha, para uma conversa Irreversível.

Birds Are Indie @ Café-Concerto RUM by Mavy

Claro que ainda existem “heróis” à maneira clássica, mas parece que o paradigma tem mudado e tende a equivaler-se a deuses pessoas que simplesmente têm boas ideias de negócio e que, com o seu sucesso, se tornam pseudo-heróis.

Birds Are Indie

Irreversível – Olá malta! Muito obrigado pela disponibilidade para esta conversa e parabéns pelo novo disco! Sinto uma nova intensidade nos temas. Quais as maiores diferenças que podemos encontrar desde o 1º disco para este mais recente lançamento? Já fizeram essa avaliação?
Birds Are Indie – Na verdade, essa é uma “avaliação” que vamos fazendo, em contínuo, ao longo de 13 anos. A nós, e eventualmente a quem nos segue desde o início, parece-nos uma evolução gradual e natural. Mas pensando nos extremos temporais, ou seja, o 1º álbum e o recente “Ones & Zeros”, é que agora já sabemos minimamente o que estamos a fazer. (risos) E, claro, no primeiro disco pouco mais havia que uma guitarra acústica, uma pandeireta, um teclado Casio e umas vozes muito tímidas. Agora são várias guitarras eléctricas (a acústica também aparece, de vez em quando), bateria tocada em pé, baixo, teclados, sintetizador, drum machine… e as vozes bem mais afirmativas. Uma coisa mantém-se – ainda assim –, que é a vontade de arriscar fazer coisas que inicialmente achamos que não somos minimamente capazes.

Irreversível – Neste “Ones & Zeros” vocês exploram temáticas como a distopia, a inteligência artificial e a alienação. Como foi o vosso processo criativo e porquê a escolha destas temáticas?
Birds Are Indie – Já quase parece um cliché, mas olhando para trás, há certamente alguma influência da pandemia. Apesar disso, o disco não fala de doença, ou de vírus, ou de estar confinado em casa. Mas tem uma perspectiva colectiva, de estarmos todos no mesmo barco, de caminharmos todos, em conjunto, para um destino qualquer, mesmo quando parecemos tão distantes ou diferentes. E esse período, pelo menos nas nossas cabeças, veio apenas enfatizar temas que já andavam latentes na escrita das letras para este álbum e que tinham a ver com a relação com a tecnologia, a virtualidade, os ecrãs, essas coisas.

Irreversível – Se a IA criasse uma canção para os Birds Are Indie, quais os atributos e elementos que não podem faltar para que encaixe no vosso repertório?
Birds Are Indie – Eheh, bela pergunta… Provavelmente não estamos muito longe de conseguirmos ter a resposta, se quisermos. Mas provavelmente escolheríamos uma estrutura pop e depois daríamos liberdade ao algoritmo. Isso é o que até aqui tem sido feito pela nossa imaginação autodidacta e pelas nossas limitações, que nos dão a identidade que temos. Outra coisa seria a existência de algum tipo de dualidade, nas letras através de conceitos opostos, na complementaridade das vozes masculina e feminina, ou nos contrastes de som calmo e agressivo.

Irreversível – O que diriam que é preciso para ser um herói no séc. XXI?
Birds Are Indie – Hum… Essa música “21st Century heroes” parte da ideia de que os heróis a que estávamos habituados normalmente eram underdogs, vindos do nada, muitas vezes até surpreendidos com as suas capacidades, mas que lutavam por causas universais. E os seus inimigos, os vilões, eram gente poderosa, com dinheiro, maldosa, egoísta… Claro que ainda existem “heróis” à maneira clássica, mas parece que o paradigma tem mudado e tende a equivaler-se a deuses pessoas que simplesmente têm boas ideias de negócio e que, com o seu sucesso, se tornam pseudo-heróis.

Birds Are Indie @ Café-Concerto RUM by Mavy


Irreversível – Como está a decorrer a tour de apresentação e quais as expectativas para o que
ainda falta?

Birds Are Indie – Felizmente está a correr muito bem! Tocamos o disco praticamente na sua totalidade, com mais alguns temas antigos pelo meio. E estamos a gostar muito da energia das canções ao vivo (e o público também parece que sim). Em breve voltaremos a Espanha, o que também é algo pelo que normalmente ansiamos, ainda mais porque desta vez vamos tocar em algumas cidades onde nunca estivemos…

Irreversível – Os palcos promovem alguma evolução nos temas?
Birds Are Indie – Sim, no nosso caso isso é quase inevitável. Por um lado, porque há músicas que, embora gostemos delas como estão gravadas, ao vivo resultam melhor de outra forma. Por outro, há situações em que é humanamente impossível três pessoas tocarem tudo o que está numa determinada faixa e então temos de reestruturar algumas coisas. E há ainda os casos em que, ao tocá-las ao vivo, vamos descobrindo coisas novas, experimentando alterações, ou simplesmente quebrando a rotina. Em suma, somos uns eternos insatisfeitos.

Irreversível – Quais são as vossas fontes de inspiração?
Birds Are Indie
– Pensando na inspiração de forma mais genérica, é muito básico, são as coisas que acontecem à nossa volta. Pode ser uma conversa, uma coisa que ouvimos na rua, uma notícia de jornal, um livro que lemos, um filme que vemos, um sentimento que não conseguimos tirar do corpo. E tudo isso, de uma forma ou de outra, vai parar às canções.

Irreversível – Pessoalmente detesto rotular artistas ou bandas, é quase sempre limitativo, mas por vezes é necessário fazê-lo. Se tivessem de explicar o tipo de som que fazem, como o descreveriam?
Birds Are Indie – Se tu não gostas, imagina nós… Ainda por cima, ao longo de 13 anos fomos sendo integrados em vários “géneros musicais”, seja bedroom pop, folk, pop, rock… Se calhar, e voltando às raízes, o nosso estilo (que, para nós, nunca foi um estilo musical e que, por isso, ironicamente colocámos no nome da banda) continua a ser o indie. Pode haver bandas independentes de jazz, de metal, de hip-hop ou seja de que estilo for. Acreditamos que o indie é uma forma de estar na música (e também na vida, que as coisas, idealmente, confundem-se).

Irreversível – O que é irreversível?
Birds Are Indie – Os cabelos brancos. É o que dá começar uma banda só aos 30…


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