A banda britânica regressou a Portugal para celebrar os 20 anos do disco “Man With a Movie Camera, em três apresentações exclusivas, no Porto, Lisboa e GuimarãesA Irreversível esteve presente no esgotado espetáculo no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.

No passado dia 28 de Outubro rumei à bela e cada vez mais cosmopolita cidade de Guimarães para assistir a mais um concerto dos The Cinematic Orchestra. Certo que o contexto deste concerto seria naturalmente diferente de qualquer um dos anteriores a que tinha assistido, certo também que já tinha passado quase uma vida desde o último, mas o entusiasmo e antecipação seriam similares a momentos anteriores, mesmo que por razões distintas. Nem eu sou a mesma pessoa que era, por exemplo, em 2000 ou em 2009, nem esta apresentação dos The Cinematic Orchestra seguiria aquilo que assisti anteriormente. Senti, na falta de melhor analogia, que ia estar com uma ex que não via há mais de uma dezena de anos.

Chovia a cântaros neste dia, São Pedro tinha aberto todas as passagens de água possíveis para o norte de Portugal. Acabei por chegar relativamente cedo a Guimarães e, perante a tromba de água permanente que impedia o desejado passeio pela cidade, fui directo até à mítica Cervejaria Martins regalar-me com a afamada francesinha. O ambiente em Guimarães, incluindo o trânsito, era de grande azáfama, foi já com a francesinha pedida que entendi que o Vitória jogava no Estádio D. Afonso Henriques e que havia concerto do Tony Carreira no Multiusos. Diferentes espetáculos para diferentes sensibilidades e gostos.

Sem me aperceber, subitamente estava em cima do horário previsto para o início do encontro marcado com a ex. A distância entre a Cervejaria Martins e o Centro Cultural Vila Flor não é nada de significativo, seria uma caminhada normal e até aconselhada perante o repasto… apanhei uma das maiores molhas da minha vida, o guarda-chuva ficou pelo caminho destruído pelo vento, mas nunca tive qualquer dúvida do que queria e do destino.

Credencial tratada, houve ainda um pouco de tempo para café (e cigarro) no acolhedor Café-Concerto do CCVF, assim como algumas conversas de circunstância com o foco naquilo que nos esperava daí a minutos.

O concerto começou ao som de uma máquina de escrever, compondo um texto que todos podíamos ler na projeção que acompanhou todo o espetáculo. Este início prendeu-me, entendi que surpreendeu e não me prendeu apenas a mim, mas de igual forma a todo o auditório. Um magnífico e raro silêncio que respeitava esta particular abertura.

The Cinematic Orchestra ©️ Paulo Pacheco - CCVF
The Cinematic Orchestra ©️ Paulo Pacheco – CCVF


A experimentação audiovisual seguiu o seu rumo, com o filme de Dziga Vertov, “The Man With a Movie Camera” (1929), a ser projectado durante a actuação em consonância com os temas e, cortado aqui e ali, por improvisações feitas ao vivo por um par de câmeras, tudo isto com roupagens diferenciadas a temas de sempre dos The Cinematic Orchestra. Este não era dia nem concerto para dançar e acabar suado, seria para degustar e saborear, tudo tão diferente daquilo que já tinha vivido com The Cinematic Orchestra. A ex apresentava-se mudada, mas manteve as características excepcionais que me fizeram apaixonar em 1999 com o “Motion” e a perder-me de amores com “Every Day” em 2002, ambos ficaram entre os discos do ano da minha saudosa Crash-Discos. Por momentos, este reencontro mágico trazia-me todas as recordações de vidas passadas dentro desta mesma vida e de como tínhamos sido tão felizes.

The Cinematic Orchestra ©️ Paulo Pacheco - CCVF
The Cinematic Orchestra ©️ Paulo Pacheco – CCVF


O quinteto que compõe a orquestra cinematográfica parece navegar entre improvisos clarividentes, sempre atados entre si e totalmente conscientes do seu espaço e tempo, escrevo – e que isto seja entendido como um elogio – que se perdem nas suas construções sonoras adaptadas a um conceito audiovisual ímpar e singular.

The Cinematic Orchestra ©️ Paulo Pacheco - CCVF
The Cinematic Orchestra ©️ Paulo Pacheco – CCVF


A ex evoluiu noutros sentidos, eu também, mas o arrebatamento foi o mesmo e fizemos amor tal como há 20 anos atrás.

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