O hábito fez-se escarlate numa noite tripartida em poder, doçura e acutilância.
Surma, juntamente com João e Pedro, afiaram facas para cortes cirúrgicos a quem se predispôs à intervenção cultural dos hábitos salutares.

Há pessoas que nos enchem de coragem. A Surma é uma delas.

Envolveram-nos na luz de uma chama mortal, espicaçando melodias a arderem num prazer escarlatim. O universo de saberes ocultos teve lugar na cidade femme fatale, agrafando ao seu historial uma noite inesquecível ao comando de um trio profissional na arte de intervir e suturar.
Foi nesta descoberta de coisas ocultas internas que, por instantes, habitamos a poesia de Surma. Na sua música crua marcamos encontro com riffs cifrados servidos como alimento paciente para a alma que arrefece nas primeiras noites outonais.
Esta busca de criptoanálise foi-nos introduzida, cirurgicamente, no âmago e acompanha-nos no regresso a casa quando atravessamos o breu fresco.
Ouviram-se tempestades nos corações que se colaram à música, assobiando tremores íntimos para exorcizar maus génios.
O som estridente e eruptivo obedeceu às mãos suaves de Surma que após cortes necessários, suturou delicadamente feridas expostas.
Surma tem o poder de nos dizer o que precisamos de ouvir, ocupando-nos por completo com notas que invadem corações tingidos de carminado.

Após uma noite quente e suada, a nossa memória agora é de luz e de sossego. Nos nossos olhos fica o fumo de um anoitecer ardente e folhas de Outono que nos revolvem a alma. A busca de respostas fica a cargo da luz que nos foi emprestada por Surma, João Hasselberg e Pedro Melo Alves.
Há pessoas que nos enchem de coragem. A Surma é uma delas.
Não nos ludibria quando nos oferece cifras para descodificar. Entrega-nos a emergência de as ouvirmos e, gentilmente, cede-nos alguma luz para evidenciarmos a sua descodificação.

Surma © Raquel Folião
Surma © Raquel Folião
Pedro Melo Alves © Raquel Folião
João Hasselberg © Raquel Folião
Pedro Melo Alves © Raquel FoliãoPedro
Surma © Raquel Folião


Numa despedida, cremos que breve, o trio descalça luvas e pousa instrumentos cortantes, na certeza que feridas abertas estão agora cerzidas com exactidão e minúcia, devolvendo-nos esperança de que golpes são dores de crescimento necessários.
Sorte a nossa de contarmos com tamanha delicadeza de linhas que nos atravessam a carne, fazendo a ponte entre margens de pele que se afastaram para deixar escorrer o líquido carmim.

Todas as fotos © Raquel Folião

Conteúdo escrito pela criadora de conteúdos Raquel Folião

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