Sai hoje, 3 de Maio, “Underwater, feels like eternity”, o novo álbum de Monday, com o selo Lay Down Recordings
Cat Falcão, voz conhecida da cena musical alternativa portuguesa com projectos como Golden Slumbers, regressa com o seu alter-ego a solo: Monday. “Underwater, feels like eternity” é o primeiro álbum inteiramente produzido pela própria.
Impelido pelos 3 singles que Monday editou em antecipação ao LP, fui irreversivelmente em busca de conhecer o restante disco e conhecer um pouco melhor a Monday, ou a Cat…
“Underwater, feels like eternity” é carregado de emoções e sensações, tema a tema foi-me conquistando e é já um dos discos que mais ouvi em 2024.
O disco nasceu de uma fase algo confusa e de ruptura a nível pessoal (…)
Monday
Irreversível / Francisco Barros – Olá Cat, muito obrigado por aceitares esta entrevista, os singles foram aguçando o apetite para este “Underwater, feels like eternity“, parabéns pelo disco. Foi-me envolvendo.
Monday / Cat Falcão – Obrigada Francisco!
Irreversível – Monday surge como um alter-ego da Cat Falcão, ou são duas faces da mesma moeda?Monday – Diria que é mais uma extensão de mim mesma do que uma personagem criada para o efeito. Talvez tenha um quê de alter-ego no sentido em que me “protejo” por detrás de outro nome, mas sou sempre eu, e a visão que tenho sobre aquilo que passa por mim.
Irreversível – Qual o conceito por detrás deste “Underwater, feels like eternity“. Alguns temas têm contextos muito específicos, correto?
Monday – O disco nasceu de uma fase algo confusa e de ruptura a nível pessoal, mas também de trabalho. Vi-me num lugar um pouco desamparada e sem saber quais seriam os passos a seguir, por isso quis desafiar-me a escrever este disco e a produzi-lo sozinha, acima de tudo para me provar que conseguia fazê-lo e com o único objetivo de aprender e divertir-me com o processo, sem pensar necessariamente em ter que o lançar.
Acabei por gostar do que estava a ser feito e a querer que fosse ganhando mais corpo. São um conjunto de canções de procura e libertação, de recomeçar depois de sair de um lugar de limbo. É um disco de heartbreak, de sair dos 20’s, de lidar com a solidão e todas as coisas boas, más, simples e complexas de nos sentirmos perdidos.
Irreversível – O que poderemos esperar dos concertos? Alguma evolução nos temas quando os apresentares ao vivo?
Monday – Sinto que ao vivo a entrega é sempre outra, mais intensa e mais pessoal, pelo que diria que será assim a maior diferença… apesar de termos conseguido capturar bem essa intimidade no processo de gravação.
Irreversível – Como foi o processo criativo para a criação das composições e como decorreu depois a gravação?
Monday – A composição é sempre a parte do processo mais divertida para mim. Começou em setembro de 2022 (fora alguns temas mais antigos) e já sinto imensa nostalgia desses dias e do lugar onde a minha cabeça estava, que era a de não saber para onde ir e o que ia acontecer. Fora algum medo, foi super bom passar pelo processo de ir descobrindo o que gostava e o que queria fazer com tempo e por mim mesma. Não teve muita ordem nem horários muitos fixos, respeitei o tempo que cada canção pedia e, mais tarde, comecei a chamar os músicos que acabaram por participar no disco para pensarmos nas partes deles. A gravação aconteceu em alguns blocos, sendo que o bloco “principal” foi em Junho do ano passado. O Nuno Monteiro e eu fomos ajustando mais dias quando sentimos que faltavam coisas ou explorar canções de outras formas, e só acabámos mesmo as gravações em setembro. No geral, o disco teve a sorte de nascer sem pressas e com paciência e dedicação de quem fez parte dele.
Irreversível – Como surgiram as colaborações com o Afonso Cabral e a April Marmara?
Monday – Gosto muito do trabalho e das vozes dos dois e já os conheço há bastante tempo. Nunca tinha convidado ninguém para participar num tema meu, nem sei bem o porquê, mas desta vez comecei a compor estes dois temas com a ideia de ter outras pessoas a participarem. A “Habits” com o Afonso foi escrita a pensar no diálogo entre duas pessoas que se tentam encontrar e ajustar no meio de fantasmas do passado, e sabia que precisava da outra voz para que fizesse sentido. Dai surgiu o convite ao Afonso. Sou muito fã dele e fiquei muito feliz por ter aceite cantar e escrever o verso dele. A “Teenage Romance“, para mim, é uma canção meio atípica, porque vive de três secções que talvez nem façam sentido juntas numa ótica mais “convencional” – sou muito amiga da Beatriz e acho a voz dela super interessante e pensei que fosse complementar a narrativa da canção, que é algo teatral também. Acho que funcionou super bem e estas duas canções são das minhas favoritas no disco!
Irreversível – Quais são as tuas fontes de inspiração?
Monday – Para este disco, foi tudo o que estava a acontecer à minha volta. Relações que tinha, a casa onde vivia na altura (que em parte ditou como gravei as demos), a música que estava a ouvir, filmes e livros que li, concertos que fui, etc. Para citar alguns exemplos, ouvi muito o disco da Bess Atwell, Feist ou Lizzy Mcalpine e acho que, de formas diferentes, ajudaram-me a limar o caminho. Li o livro mais traumatizante de sempre, “A Little Life” que, fora o desconforto, me ajudou a explorar a sinceridade nas palavras. Vi muitos pores de sol na cozinha da minha casa antiga enquanto ia tocando guitarra e que me ajudou a criar um espaço para criar sem pensar demais. Foram muitos lugares de inspiração…
Irreversível – Pessoalmente detesto rotular artistas ou bandas, é quase sempre limitativo, mas por vezes é necessário fazê-lo. Se tivesses de explicar o tipo de som que fazes, como o descreverias?
Monday – Acho que é pop, embora a pop seja super vasta e também ela difícil de encaixar sobre si mesma. Mas de uma forma geral, pop com um twist de folk/singer-songwriter.
Irreversível – O que é irreversível?
Monday – Envelhecer!! E ainda bem, acho eu.
* Foto de capa: Monday © Pip Marinho