Unsafe Space Garden no SXSW 2026
A ida ao SXSW, não inaugural para os portugueses, mas simbolicamente perfeita para os Unsafe Space Garden, não surge como validação externa. Surge como continuidade natural de uma busca. Se o chão é instável, que o seja então em Austin, entre palcos onde a excentricidade não é excepção, mas regra. Os Unsafe Space Garden não vão representar Portugal, vão explorar outra superfície onde testar o equilíbrio, outra topografia emocional.

Há bandas que fazem canções, outras constroem temas. Os Unsafe Space Garden pertencem a uma terceira categoria, a das bandas que fabricam realidades alternativas, que têm densidades estranhas, onde as palavras se dobram sobre si e a música funciona como um manual inacabado, e nós à espera da próxima edição, na busca do fim do manual.
No centro disso tudo está o último LP “Where’s the Ground?“, um disco que não pergunta “onde está o chão?” por ingenuidade, mas por método. É uma interrogação estratégica, quase científica, lançada com o descaramento de uma criança que descobriu que pode derrotar um adulto apenas fazendo mais perguntas.
A música do colectivo vimaranense balança nesse ponto raro onde o lúdico se encontra com o lúcido. Há um impulso infantil, as cores, a teatralidade, as vozes que oscilam entre o sussurro e a berraria, mas há também uma maturidade que reconhece o grotesco como uma forma legítima de verdade. Frank Zappa perceberia isto, a seriedade nunca esteve nos arranjos, esteve sempre na coragem de esticar a linguagem.
E é precisamente nessa horta que os Unsafe Space Garden florescem. A banda é uma sucessão de quadros emotivos que parecem pintados com giz num pavimento molhado. Belos, frágeis, conscientes de que vão ser colhidos e consumidos, mas obstinados a existir com intensidade máxima enquanto o paladar durar. Há ali uma honestidade que nada teme, que a usam, até, como lente para amplificar tudo.
Ao vivo, a banda comporta-se como um colectivo de personagens que partilham a mesma vulnerabilidade radical. Há algo profundamente adulto na forma como assumem a fragilidade, mas há também algo de infinitamente juvenil no entusiasmo com que a exibem. É este paradoxo, entre a gargalhada e a ferida profunda, entre a pose e o colapso, que os torna uma das propostas mais singulares da música portuguesa contemporânea.
O seu jardim nunca foi um refúgio. É um laboratório.
E o laboratório cresce porque a instabilidade, afinal, é fértil.
A vulnerabilidade é potência.
O mundo ficaria infinitamente mais interessante se cedêssemos espaço ao estrambólico, para dizer a verdade.
Talvez seja isso que esperamos dos Unsafe Space Garden, aprender a tropeçar, sem saber por anda o chão, mas com estilo.
Revelado em Outubro, este desarmante novo single é uma provocação necessária num tempo de silêncios convenientes, que tanto carrega no acelerador das guitarras como flutua numa atmosfera serena protagonizada por sintetizadores, para depois estourar novamente a uma velocidade contagiante.
Em “FKNKU” (lê-se literalmente: faca no cu), os Unsafe Space Garden confrontam o conceito de auto-sabotagem – uma experiência transversal ao ser humano que o grupo abraça e que convida a resolver em conjunto. Neste processo colectivo, dão também as mãos a André Tentugal, autor do vídeo que acompanha o tema e que resulta de uma parceria profunda entre a banda e o realizador.
Antes de voarem para o Texas e de representarem Portugal no SXSW, em Março de 2026, os vimaranenses vão passar ainda pelo festival espanhol Monkey Week, em Puerto de la Santa María (20 de Novembro), e pelo palco do Theatro Gil Vicente, em Barcelos (6 de Dezembro), encerrando o ano a jogar em casa, na BlackBox do CAAA (20 de Dezembro).
(Texto após o vídeo FKNKU: Comunicação oficial USG)
Foto de capa © Shootsounds
