“Wolf Manhattan é um produtor que, numa época não específica, vivia acima de uma loja no centro de Nova Iorque. Rodeado pela colecção de discos do tio, um gravador de 4 pistas e uma guitarra dos anos 50 (que pertencia a um conhecido artista da Rough Trade), descobriu que a única forma de acalmar a solidão seria ouvir vozes periféricas mas principescas do garage, do indie e da pop.
Compor e gravar tornaram-se então os seus melhores companheiros. O resultado dessa amizade são 13 canções despojadas que falam de corações partidos, dúvidas e dívidas pessoais, más decisões, sonhos perdidos e empregos precários.”
A propósito desta história imaginada pelo João Vieira ( X-Wife, White Haus) e ilustrada pelo artista Toby Evans-Jesra, aproveitamos a oportunidade para uma pequena entrevista com o criador de Wolf Manhattan:
Irreversível – Onde se encontra e desencontra esta nova persona com o João Vieira?
João Vieira – Wolf Manhattan é um alter ego criado por mim, um personagem feito à medida destas canções. Senti necessidade de pôr estas canções cá fora através de um alter ego e não em nome próprio, quis criar um mundo paralelo fictício, fora das minhas rotinas, como se de um herói de banda desenhada se tratasse. Eu estou aqui presente evidentemente, sou eu que escrevo as letras e as canções mas são histórias fictícias, inspiradas em 1001 pessoas, em filmes que vi, livros de novelas gráficas, instalações de arte, performances, discos e tudo que absorvo em meu redor.
I – Depois de pouco mais de duas décadas com os X-Wife e passagens por projectos como White Haus, em que o post-punk e a electrónica estão muito presentes, qual o significado de agora mostrar um disco mais despido de camadas, directo e reduzido ao essencial?
JV – Acho que a pandemia quebrou um ciclo, estava habituado nos últimos 10 anos a lançar discos de dois ou três em três anos, apresenta-los ao vivo, intercalar com DJ sets e a gerir os projectos de forma a que pudessem coexistir e não se atropelassem ou prejudicassem. Quando o ciclo foi interrompido, quando não foi permitido tocar, ensaiar, passar musica e trabalhar com outras pessoas, virei-me para estas canções, algumas esquecidas há muito tempo. O facto de estar sozinho e limitado a um pequeno estúdio ajudou a que explorasse o lado da canção mais minimalista, a procura de fazer algo sem muitos artifícios, algo que pudesse fazer em palco praticamente sozinho. Acho que foi a altura certa de me lançar um desafio, uma oportunidade para me reinventar, de fazer mais com menos, de me focar na canção, nas historias e nas personagens.
I – Os 13 temas que compõem a estreia de Wolf Manhattan são mais uma prova de que três acordes e pouco mais de dois minutos fazem uma boa canção. Era essa uma das tuas missões enquanto trabalhavas neste álbum?
JV – Não tinha qualquer missão, a ideia era ir fazendo boas canções até ter suficientes para fazer um album. A única limitação que me impus foi de ter só dois instrumentos para o fazer, uma guitarra e um orgão com caixa de ritmos. Numero de acordes e duração das musicas nunca foram uma imposição para a minha escrita. Fecho uma canção quando acho que funciona bem que está lá tudo e não é necessário acrescentar mais nada.
I – O disco teve a coprodução de André Tentugal, que também te acompanhará ao vivo. O que tens preparado para o palco e quem mais vai estar contigo?
JV – Tem que haver algum elemento de surpresa para os concertos. Não posso divulgar tudo, posso só adiantar que não estarei sozinho em palco e que vai ser um concerto/performance especial.
I – Além da música que está prensada nos 200 exemplares em vinil, em que outras áreas e plataformas vamos encontrar o lobo solitário de Manhattan?
JV – Nas usuais: Bandcamp, Spotify, YouTube e outras plataformas.
I – Numa colecção de discos por ordem alfabética, podemos descobrir as tuas assinaturas musiciais quase no fim (X de X-Wife, W de White Haus e de Wolf Manhattan). É onde estão também alguns dos teus discos preferidos? Se sim, quais?
JV – Ah ah! Estava a ver que ninguém reparava, a ideia é que os meus discos estejam todos juntos nas lojas de musica, assim é mais fácil encontra-los! Sempre nos últimos lugares da fila no autocarro, no meio da traquinagem. Sim, podes encontrar ao lado dos meus projectos os Yeah yeah yeahs, White Stripes, X-Ray Spex, Will Oldham, Weird war.
I – O que é irreversível?
JV – A perda da inocência.
André Tentúgal assina a produção e também a realização do vídeo.
5 Comments
s gate
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Francisco Barros
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