Sonic Blast Fest confirma os primeiros 22 nomes para 2026 e a Irreversível faz um recap de 2025.
O Sonic Blast entrou oficialmente na rota para 2026. E com estrondo. A organização já confirmou os primeiros 22 nomes para a próxima edição, um arranque de cartaz robusto que mantém o festival no topo do stoner, psych, fuzz, doom, experimental e mais o que houver, do circuito europeu. Mas, antes de olharmos para o futuro, vale a pena regressar ao que aconteceu em 2025, uma edição particularmente forte na história do festival, onde alguns concertos se tornaram imediatamente inesquecíveis.
Nesta crónica/artigo, duplo, anúncio + retrospectiva, revisitamos os momentos que marcaram a edição passada e abrimos o apetite para 2026.

Pela 1ª vez desde 2019 voltei a estar três dias no Sonic Blast. Não era o previsto nem o programado. Mas, o alinhamento desta edição teve algo de especial que me obrigou a ir e vir, vir e ir. Todos os dias tinham algo de imperdível. E as expectativas, diárias, foram confirmadas, com vários concertos que se transformaram imediatamente em memória, daqueles que sabemos que vamos referir durante anos quando falarmos, quer da edição de 2025, quer da história do Sonic Blast.
King Woman, em estreia para mim, surpreendeu com uma exaustão emocional. Um concerto denso, quase litúrgico, onde Kristina Esfandiari comandou um abismo inteiro com a sua voz. Pelo meio de nós. A trespassar.

Os Earthless vieram recordar porque é que continuam a ser uma força da natureza em palco e porque o público do Sonic os recebe tão bem. Não parece um concerto, é uma espécie de jam contínua em pura combustão. Não sou o maior fã dos discos. No entanto, em concerto, a cada concerto, mais ainda no enquadramento do Sonic Blast, oferecem sempre um som e vibe impossível de ignorar.
Escrevi em 2023: (…) Impelidos por esse “granda som” fomos até junto do palco assistir ao que restava do concerto dos Earthless. Stoner-Rock-Psicadélico daquele que vai do fechar as pálpebras e sentir friozinho na nuca, até ao abanar vigoroso da cabeça e corpo. É certo que não assiti ao início do gig, mas é certo também que os Earthless deram um espectáculo de grande nível, sendo inclusive uma das actuações mais comentadas entre festivaleiros nos momentos de pausa entre concertos por todo o resto do dia. Esteve aqui um dos grandes momentos do Sonic Blast 2023… por volta das 17h de um Sábado… (…)
Se a edição de 2025 teve um eixo emocional, ele passou inevitavelmente por Amenra. Uma comunhão total com o público, impossível ficar indiferente. Um concerto que pareceu encadear um festival inteiro. Marcante. Quer gostes mais, ou menos, de Amenra.

Os Chalk trouxeram o industrial, numa atuação que apanhou muitos de surpresa e abriu uma nova frente estética no meio do mar de stoner, fuzz e outros que tais. Já me tinha cruzado com eles no Ecos do Lima 2024 e tinha ficado rendido. A frente de palco estava surpreendentemente pouco ocupada, mas os rostos eram maioritariamente reconhecidos entre si. Durante a actuação foram agarrando o festival e, a meio do gig, estava reposta a normalidade do Sonic. Um amálgama de pessoas a curtir valente.

Emma Ruth Rundle ofereceu fragilidade, intimidade e um daqueles concertos que parecem falar a cada pessoa em particular. Um dos momentos mais inacreditáveis que vivi em qualquer edição ou gig do Sonic Blast. O sol a desaparecer pela nossa direita, as lágrimas perdidas que ias descobrindo por entre o público, o silêncio, num respeito quase inacreditável em ambiente de festival, tornavam tudo ainda mais impactante. O ano está a acabar, ainda tenho algumas coisas para assistir em 2025, mas muito provavelmente esteve aqui, de forma totalmente inesperada, um dos melhores gigs que assisti este ano. O stoner tem muitas formas…
Dame Area decidiram incendiar tudo; sem surpresa e a confirmar as expectativas, era das bandas que estava mais curioso para entender como o Sonic ia reagir; com a eletrónica tribal e pujança rítmica constante, um espetáculo frenético que colocou o (meu) corpo no centro da experiência. Uma aposta arriscada da curadoria mas que funcionou impecavelmente. Nos últimos anos o Sonic Blast tem aberto os palcos a outras tendencias e formatos. Arriscado, sem dúvida, mas estão a ganhar a aposta, acima de qualquer suspeita.
Monolord, como seria de esperar, nenhuma surpresa aqui, vieram erguer uma muralha sonora. Aquele doom arrastado, pesado, magnético, que cola a areia, o salitre, o sol e as notas, à pele. São momentos destes que demonstram e comprovam porque é que o Sonic Blast continua a ser o festival de culto que é. A meio da tarde uma jarda de som. A meio da tarde podia acabar o dia de concertos com uma barrigada sonora. A meio da tarde a assistir a um magnifico concerto. Daqueles que tens de ter cuidado, pois ainda falta tanto do dia…
Patriarchy veio baralhar tudo e todos. A surpresa foi geral, incluindo a minha que nunca tinha assistido.
Teatralidade, eletrónica suja, performance intensa, uma energia que atravessou o recinto com estranheza e sedução, fugindo totalmente ao núcleo do festival e, novamente, precisamente por isso, funcionando tão bem. Fui absorvido. Fui surpreendido. Foi um dos melhores concertos do ano em ambiente de festival. Foda-se, comecei cá atrás junto à mesa de som. Fui indo, indo, dançando, partilhando momentos com anónimos, dançando, indo. No final do concerto ouvi alguém a dizer, e isso ficou-me registado: “O que é que acabou de acontecer aqui!?!“. Dava titulo para crónica.

Entre os nomes nacionais, Maquina. mostraram novamente que merecem estes palcos. Velocidade industrial, guitarras serradas, suor e culto. Sim, culto. Se em 2024 foram uma espécie de surpresa generalizada no Sonic, pincipalmente entre o público não nacional, em 2025 já tinham o festival agarrado pelos tomates e ovários. Depois foi só, “só“, destruir e conquistar.
Os Sunflowers, sempre fiéis ao seu caos organizado, ao seu garage psicadélico, assinaram um dos concertos mais vivos e cheios de nervo da edição. Explosivo.
Claro que 2025 não se esgotou nestes nomes. Houve uma série de outros concertos absolutamente incríveis, daqueles que, noutra edição, teriam facilmente entrado para o topo das memórias. Mas, para esta retrospectiva, decidi focar-me apenas nos momentos que, pela intensidade vivida ou pelo impacto emocional, ficaram cravados de forma mais vincada. Não é uma hierarquia, é apenas o recorte pessoal de quem viveu estes três dias por inteiro. E é por isto que vou ano após ano até ao Sonic.
A edição de 2025 provou mais uma vez que o Sonic Blast e a sua curadoria vive no cruzamento certo. Numa encruzilhada entre o peso, o risco, a surpresa, os cultos, e a emoção. Um festival que sabe exatamente quando deve rasgar e quando deve emocionar. E que, olhando agora para 2026, com 22 nomes já confirmados, parece querer continuar a escrever esta história com a mesma intensidade, a mesma identidade e a mesma energia única que se vive ali. Uma ilha sonora.

Entre os nomes já anunciados, destaque Irreversível para ADULT. e Snapped Ankles, na tal aposta inovadora na curadoria do Sonic, assim como para Turbonegro, Frankie and The Witch Fingers, Dead Meadow ou Elder.
Os passes gerais estão disponíveis, sendo que os bilhetes em modalidade early bird já se encontram esgotados.
Reel:
“Uma chegada ao Sonic como outra qualquer.“
*foto de capa: Sonic Blast 2025 © Iago Alonso
