Para mim, sempre houve um vínculo afetivo entre os lugares e as músicas. Não consigo dissociá-lo, e, quando viajo, as memórias mais duradouras e intensas são aquelas em que a música esteve presente. A música está ad aeternum na minha mente.
Encantador, majestoso e intrigante, o Panteão de Roma ou Panteão de Agripa, é uma estrutura que sustenta uma jornada com mais de dois mil anos de História. Sentado numa elegante esplanada na Piazza Della Rotonda, é-me muito difícil tirar os olhos de uma construção tão enigmática. A fantasia, a imaginação… o Panteão causa-me alguma inquietação e, apesar da multidão que o circunda e visita, o meu corpo deseja sentir mais de perto a morada dos deuses testemunhando assim o interior do icónico monumento.
Tentar escutar as paredes de uma obra praticamente intacta ao longo dos séculos é uma ocasião solene para apurar a alma de uma cidade desconcertante. Preciso de tirar uma série de dúvidas e perceber melhor a História de uma urbe importantíssima para a civilização ocidental.
Nesta viagem pelo passado da Cidade Eterna ouço Arcangelo Corelli, um dos expoentes do barroco italiano. A luz que entra pelo Panteão através do seu inusitado óculo exerce um tipo de feitiço. Os turistas têm muito com que se entreter… o chão que ainda conserva o mármore original, os quadros e as esculturas e, naturalmente, os túmulos de famosas personalidades.
O violino de Corelli e a harmonia do edifício fazem-me sentir bem. Poderia escutar Corelli durante horas e horas ao mesmo tempo que apreciava toda a beleza e toda a arte em meu redor.
Para o final, um sinal dos deuses. O túmulo daquele que me deliciava os ouvidos – Corelli – estava mesmo à minha frente. Dou-vos a minha palavra de que não sabia que o compositor italiano estava enterrado no Panteão. Inesquecível.
*Foto de capa: Panteão de Roma © Miguel Pinho
Vigésima edição d´ “As sonoridades das viagens“ na Irreversível.
Miguel Pinho é um reconhecido apaixonado por música e autor publicado sobre viagens.
Conhecendo estas premissas, a Irreversível lançou-lhe o desafio de somar as duas, a música e as suas viagens, numa rubrica para Magazine.
Mais recente livro de Miguel Pinho (artigo Irreversível):
“Das Pontes do Porto aos Doces Vinhedos Magiares“.
