Para mim, sempre houve um vínculo afetivo entre os lugares e as músicas. Não consigo dissociá-lo, e, quando viajo, as memórias mais duradouras e intensas são aquelas em que a música esteve presente. A música está ad aeternum na minha mente.
Roma é daquelas cidades que é mesmo imperativo que se veja com os próprios olhos. Sempre tive um certo receio em conhecer a Cidade Eterna, perspetivando que após a sua descoberta, o consequente distanciamento aquando do meu regresso às origens me deixasse um vazio demorado. Estava enganado. Pisar solo romano fez-me viver experiências fabulosas que guardarei eternamente e, em vez do prenunciado vazio, sinto uma enorme dose de satisfação.
A cidade é entusiasmante e, a sua História, única. Gosto muito de caminhar e Roma é perfeita para isso. Jamais esquecerei os belos passeios pelas suas praças, avenidas e ruas. A prosperidade da capital de Itália é formidável…os turistas fazem enormes filas para as geladarias mais famosas, os restaurantes e os cafés estão completamente ao rubro, as lojas mais tradicionais e as mais requintadas têm um dinamismo de salutar. Os monumentos grandiosos encontram-se por todo o lado, assim como as fontes, os palácios ou os museus. As varandas e as portões da capital italiana são verdadeiramente exuberantes. Que encantador ver as heras subindo as paredes e os muros descascados.
Os nossos sentidos são sistematicamente postos à prova numa metrópole frenética e intensa que nos lança para a fantasia.
Roma © Miguel Pinho
O meu velho hábito de estar sempre atento às questões da música, leva-nos a um bar próximo da Piazza Campo de´ Fiori. Esta praça acolhe desde 1869 um mercado de venda de flores, que , porventura, será a única do centro histórico que não tem uma basílica ou uma igreja. Os aromas das flores estendem-se pelo ar, perfumando a histórica praça e as ruelas adjacentes…Impagável!
A noite já tinha caído. O bar, num pequeno largo, dispõe de uma esplanada com três ou quatro mesas cercadas pelas emblemáticas Vespas e Lambrettas. Ficámos no interior, pequeno, acolhedor e com uma atmosfera incrível. Exaustos, pedimos dois Aperol Spritz, conhecido cocktail italiano. E foi com o relaxante líquido a correr pelas nossas gargantas que ouvimos do melhor que se faz na british soul. Lembro-me da voz emotiva de Maverick Sabre e do som irreverente de Children of Zeus. Também escutámos o soul mais psicadélico de Sault e a voz extraordinária de Cleo Soul. Mas acima de todas as recordações musicais, guardo os acordes jazzísticos e os riffs de guitarra deliciosos de Tom Misch.
Nada me desapontou em Roma. Anseio por voltar!
*Foto de capa: Roma © Miguel Pinho
Décima nona edição d´ “As sonoridades das viagens“ na Irreversível.
Miguel Pinho é um reconhecido apaixonado por música e autor publicado sobre viagens.
Conhecendo estas premissas, a Irreversível lançou-lhe o desafio de somar as duas, a música e as suas viagens, numa rubrica para Magazine.
Mais recente livro de Miguel Pinho (artigo Irreversível):
“Das Pontes do Porto aos Doces Vinhedos Magiares“.