Em Fafe, o Ano Malfeito voltou a ser casa.

Há festivais que se fazem de nomes grandes. O Ano Malfeito não. O Ano Malfeito faz-se de pessoas e de bandas que se ouvem, porque as sentimos, porque as vivemos no corpo, e isso é pressentido em cada detalhe, em cada abraço. Em 2025, regressámos a Fafe com esse espírito em alta, saímos novamente com a alma cheia, o corpo dorido e a certeza de que aqui existe, e se constrói, qualquer coisa de especial, com música, claro, mas também com gente de uma entrega rara, daquelas que não se esquecem nem se fingem.

Ano Malfeito 2025 © Francisco Cabrita
Ano Malfeito 2025 © Francisco Cabrita

Não pudemos estar presentes no primeiro dia do Ano Malfeito

Na sexta, segundo dia de Ano Malfeito, o evento arrancou com Bulir#1, uma nova residência artística que deixou logo a ideia de um festival que quer crescer por dentro. Já depois do jantar comunitário, surgiram os Offtides. Para mim, em estreia, mostraram-se promissores, daqueles nomes que guardamos no bolso para ver de novo, com mais tempo, com mais espaço, com ainda mais atenção.

Offtides © Francisco Cabrita
Offtides © Francisco Cabrita

Depois, despontaram os primeiros arrepios a sério com a atuação de Maria Reis, em formato banda, num concerto com peso, silêncio e beleza. Foi um daqueles momentos em que a sala respira toda em conjunto e a música parece tomar conta da cabeça, do estômago e da alma, tudo ao mesmo tempo. Deixou cicatriz.

Maria Reis © Francisco Cabrita
Maria Reis © Francisco Cabrita

Them Flying Monkeys encerraram a noite de concertos e o Café Avenida ardeu. Estão com o motor afinado. Depois da tour pelos US of A, voltaram com músculo e confiança em alta. Já os tínhamos entrevistado, já os tínhamos recomendado inúmeras vezes, do Inferno das Febras ao Souto Rock, mas ao vivo eles mostram sempre mais, uma energia que agarra, uma presença que é meio caminho andado para o público se entregar, e rock, muito rock que sai das veias. São uma das bandas rock underground do momento no panorama nacional. Já o eram na verdade, mas agora que saltaram a rampa, estão em pleno voo.

Them Flying Monkeys © Francisco Cabrita
Them Flying Monkeys © Francisco Cabrita

A fechar a noite, Techorpsen. Para mim, é impossível dissociar a Francisca da história com a Irreversível, da passagem pela segunda e pela terceira “Uma Noite Irreversível”. Com o corpo e com a música, há ali um jogo entre a tensão e a liberdade que funciona como uma espécie de feitiço. Gosto muito. Sou fã, a minha opinião está inquinada pela amizade que nasceu e cresceu ao ritmo dos trabalhos e das diferentes peles que a Francisca transporta.

Techorpsen © Francisco Cabrita
Techorpsen © Francisco Cabrita

Que fique claro que nunca tento esconder, pelo contrário, as minhas preferências pessoais. Supostas tentativas de independência nos meus escritos soariam a hipocrisia, algo tão latente neste meio. Nem estou obrigado a um qualquer código de ética. Felizmente, aqui na Irreversível, não estamos, não estou, preso a nada, e estas crónicas nunca são uma fotocópia de uma fotocópia.

No sábado, comecei a noite de concertos com aMijas, que chegaram a Fafe e confirmaram tudo o que lhes antevia desde a primeira, e única, vez que as vi ao vivo. Atitude, música carregada de alma(s), presença em palco e muita diversão preenchida de mensagens político-sociais. Sinto que têm muito para conquistar no panorama musical underground nacional.

aMijas © Francisco Cabrita
aMijas © Francisco Cabrita

A noite prosseguiu para um momento completamente diferente. Azia foi uma surpresa enorme. Não para mim (perdoem-me a petulância, já esperava algo assim desde que vi o nome no cartaz) mas logo à partida no próprio line-up, assim como foi, e seria, para a larga maioria do esgotado espaço do Café Avenida, que já aguardava pelos Travo. Azia começou devagarinho, de mansinho, parecendo num primeiro instante, de certa forma, completamente deslocada do Ano Malfeito. Contudo, bastaram dois ou três temas para tudo mudar. Atravessou, diria mesmo que trespassou, o público e, no fim, tinha agarrado a larga maioria dos presentes. Uma das experiências mais fortes de todo o festival

Azia © Francisco Cabrita
Azia © Francisco Cabrita

E é com esta pluralidade sonora que se faz o Ano Malfeito, aquilo que já por mais do que uma vez apelidei de “uma espécie de farol do que se faz no underground nacional“.

Aqui pelo meio, algures entre concertos, todos cantamos os parabéns à Malfeito. Com direito a bolo e tudo!

Ano Malfeito 2025 © Francisco Cabrita
Ano Malfeito 2025 © Francisco Cabrita

Para último concerto do festival, estavam reservados os nossos irreversíveis Travo, que destruíram completa e totalmente o Ano Malfeito 2025. Os Travo atuaram na primeira “Uma Noite Irreversível”, têm entrevista connosco, fizemos destaques, e acompanhamos o percurso quase como um filho. Neste momento, estão em plena estrada europeia, tocando em alguns dos mais importantes festivais underground. A cada data anunciada, é um orgulho irreversível. Em palco, neste Ano Malfeito, entre o prazer de os ver mais uma vez e a emoção que este festival representa, os arrepios e as lágrimas deram nota em conjunto com a música, com os riffs cortantes das guitarras, a cadência psicadélica do baixo, os impactantes ritmos da bateria, e a entrega total, com um som que bate, rebate e fica. Já não sei bem se os vejo como banda ou como cúmplices.

Travo © Francisco Cabrita
Travo © Francisco Cabrita

A encerrar o Ano Malfeito 2025, como acontece habitualmente, “Já faz parte da casa!”, nas palavras do programador Guilherme Pinto dos Santos, esteve A Boy Named Sue. Sue faz parte da história da Malfeito, assim como faz parte da história do underground nacional e das minhas próprias histórias. Um set cheio de rock, memórias e muita festa.

A Boy Named Sue © Francisco Cabrita
A Boy Named Sue © Francisco Cabrita

O Ano Malfeito não tem marketing, tem alma. Não tem manchetes, tem histórias, onde todos são cabeças de cartaz e cada atuação pode ser uma nova conquista mútua. E, para quem lá vai vivenciar, tudo faz sentido, com ou sem os tradicionais shoots de bagaço.

Ano Malfeito 2025 © Francisco Cabrita
Ano Malfeito 2025 © Francisco Cabrita

Reel resumo dia 2 Ano Malfeito 2025

Reel resumo dia 3 Ano Malfeito 2025


Reel Short c/ Azia


Reel “O que representa o Ano Malfeito?”