(…) ficámos com a certeza que do verbo que lhe serve, ali, naquela noite, apenas se fabricaram destinos e recordações futuras.
Os nossos pés resvalaram em terra misturada com pedras quando nos encontrámos todos a caminho do ponto de encontro. Estavámos no desfiladeiro de acesso a uma floresta soturna e frondosa. Pelo caminho, insectos coleópteros faziam antever a noite que nos esperava, alumiando as vontades que nos saltavam do peito. A lua, o candeeiro mais alto dessa noite, permitia apenas que os nossos pés calcassem solo seguro, ao contrário do que nos levava ali, incertezas de caminhos. No centro da clareira encontrava-se Adam, com o que nos prometera, um demorado curso aos nossos sonhos mais íntimos.
Despidos de certezas, reunimo-nos no centro da floresta onde, genialmente, Adam nos tinha preparado as esperanças de viajarmos e permitirmo-nos à utopia.
Em frascos cuidadosamente selados dispunha de viagens tocadas a todos os ventos possíveis no imo de cada presente. Fomos escolhendo frascos para que se abrissem diante de nós ventos eufóricos, eutímicos, apaixonantes e extasiantes, dignos de sendas internas. Servimo-nos dos frascos do que nos aprouve e tomámos a doses moderadas, porém, suficientes para que o caminho se iniciasse.
No contrabaixo, as cordas indicaram direcções possíveis, sem que os nossos pés trilhassem caminho. Em cada uma delas desenhavam-se fiozinhos leves de silêncio entre Adam e nós, como que se o mestre dos intrumentos nos entendesse perfeitamente o percurso. O silêncio da dúvida que cada um trazia dentro de si foi, gradativamente, deixando de fazer barulho, acomodando-se no colo de melodias cuidadoras.
Jurámos entre nós que o se passou naquela noite será apenas o nascimento da esperança de trâmites que temos todos ainda por fazer. Adam Ben Ezra, sábio dos mesmos, envolveu-nos na sua mestria para que nela nos grudássemos como doçura pegajosa, relembrando a capacidade de voar dentro das nossas cabeças.
Este encontro teve lugar na Fábrica Braço de Prata (Lisboa), no entanto, ficámos com a certeza que do verbo que lhe serve, ali, naquela noite, apenas se fabricaram destinos e recordações futuras.
*foto de capa – Adam Ben Ezra © Raquel Folião
Conteúdo escrito pela criadora de conteúdos Raquel Folião