[R.E.A.L.] é o segundo LP do projecto a solo do baterista e produtor David Taylor, editado a 25 de Julho de 2024.
Misfit Trauma Queen emerge em 2018 pelas mãos do baterista e produtor David Taylor. A sua música é uma combinação explosiva de sintetizadores e beats possuídos por atitudes dark electro punk. O seu live-act produz um duelo entre a precisão tecnológica e a fluidez humana: o manifesto de um incessante ataque de bateria acústica envolvida em matéria electrónica. O seu anterior lançamento “Violent Blue LP“, em 2020, através da Regulator Records, foi muito bem recebido em Portugal, garantindo presença em várias plataformas de renome como os Talentos Fnac, Palco RUC e Super Bock Super Nova.
Este ano editou [R.E.A.L.], uma continuação da saga de Misfit Trauma Queen, sendo um dos discos nacionais do ano para a Irreversível.
Aproveitamos a sua presença na 3ª edição d` “Uma noite Irreversível“, combinamos esta entrevista e algo mais…
“Os concertos são desenhados para o público, enquanto que o disco é feito para mim, para a minha satisfação.”
— Misfit Trauma Queen / David Taylor
Irreversível/ Francisco Barros – Olá David, obrigado pela disponibilidade para esta entrevista e parabéns pelo teu disco “[R.E.A.L.]“. Um dos melhores álbuns editado este ano em Portugal. Foste um dos convidados da 3ª edição d´ “Uma Noite Irreversível“, como descreverias a tua experiência dessa noite?
Misfit Trauma Queen / David Taylor – Antes de mais, muito obrigado pelo convite para esta entrevista e pelo elogio. Não posso também deixar de agradecer pelo convite para a GRANDE “Noite Irreversível” que foi esta terceira edição. Para mim sem dúvida uma noite de luxo, onde para além de me sentir bem-vindo dei por mim enquadrado em espírito, em estética, em atitude e sonoridade. A Francisca, a Maria e os Maquina. emanavam vibes com que me identifico e senti que a presença deles acabou por amplificar a minha performance. Do público ao line-up: impecável.
Irreversível – Em conversa, desafiei-te a “oferecer” uma música à Irreversível, para se tornar a 2ª música oficial desta “Plataforma independente de divulgação artística e cultural.“
Já fizeste essa escolha ahahahaha?
Misfit Trauma Queen – Sabes que sim e sabes qual é ahahah. Acho que podemos concordar que a “CTRL_XII” é o tema. Essa música foi o primeiro esboço do que se viria a tornar este ultimo álbum “[R.E.A.L.]“. Desde esse primeiro esboço até esta última versão sofreu tantas alterações que nem a mãe a reconheceria na morgue. Tenho todo o gosto em que um pequeno embrião se tenha desenvolvido ao ponto de fazer parte de um canal de divulgação de música original.
Irreversível – Qual o conceito por detrás de Misfit Trauma Queen?
Misfit Trauma Queen – Misfit para mim carrega um conceito introspectivo e de desafio pessoal. Até onde consigo chegar fazendo tudo sozinho? Como soaria um estilo de música composto pela dissecação de todas as minhas influências e experiências? Este ano, depois de um concerto na Fora de Rebanho um rapaz abordou-me a dizer que eu devia “tê-los no sítio” por actuar em palco sozinho, e isso relembrou-me que provavelmente ele tem razão.
Irreversível – Como foi o processo criativo para a criação das composições de “[R.E.A.L.]” e como decorreu depois a gravação?
Misfit Trauma Queen – O processo de criação deste álbum foi muito moroso e metodicamente diferente para mim. Apliquei um processo de filtragem muito exigente ao longo de dois anos. Em trabalhos anteriores criava um esboço e obrigava-me a completar esse mesmo esboço até um resultado final decente. Desta vez os esboços foram reciclados inúmeras vezes até surgir uma ideia que fosse brilhante, e que mesmo assim foi provavelmente apagada e escrita por cima novamente. Foram criadas cerca 400 ideias que lutaram por entrar no álbum final, enquanto que, por exemplo, no LP anterior “Violent Blue” desenvolvi apenas os 10 esboços que deram origem às músicas presentes no álbum. A meio do processo cheguei a achar que estava pronto e depois convenci-me que afinal não, precisava de mais filtragem, mais união. Creio que este método rigoroso trouxe a coesão que o álbum precisava.
Irreversível – O que te oferece palco de diferente relativamente aos discos?
Misfit Trauma Queen – Performances ao vivo são o derradeiro reality check sobre o efeito que a minha música tem nas pessoas, e por isso acabam por ser o lado social neste projecto. Os concertos são desenhados para o público, enquanto que o disco é feito para mim, para a minha satisfação. Em palco tenho que estar preparado física e mentalmente para poder tocar e entregar-me à música de uma forma orgânica e expressiva para que o público entenda e se adapte à minha energia. Por outro lado, criar discos é um processo super individual e solitário num projecto com apenas um elemento, como deves imaginar.
Irreversível – Quais são as tuas fontes de inspiração?
Misfit Trauma Queen – Os géneros que mais influenciam este projecto são sem dúvida metal e hip-hop experimental. De um modo geral sou grande apreciador de produção musical, e nesse aspecto nem importa o estilo. De modo específico inspiro-me bastante em Death Grips e JPEG Mafia. Pode parecer estranho, mas eu não consumo música fundamentalmente electrónica, e acho que é isso que me traz maior gozo ao experimentar infusões com outros estilos.
Irreversível – Pessoalmente detesto rotular artistas ou bandas, é quase sempre limitativo, mas por vezes é necessário fazê- lo. Se tivesses de explicar o tipo de som que fazes, como o descreverias?
Misfit Trauma Queen – Eu não consigo encontrar um rótulo para o meu som sem usar 6 palavras diferentes, por isso acabo por dizer apenas “electrónica”, com sorte acrescento “com bateria acústica por cima”. Boa parte da música que mais me apela acaba por sofrer dessa mesma dificuldade na sua definição, logo essa dificuldade torna-se uma conquista para mim.
Irreversível – O que é irreversível?
Misfit Trauma Queen – Irreversível é a entropia que este universo nos proporciona em forma de caos, mas que eventualmente nos trouxe a conversar para esta entrevista. Obrigado!
*Foto de capa: Misfit Trauma Queen © torstudio
*Todas as fotos “Uma noite Irreversível” 3ª Edição