Uma espécie de alquimia, fusão de música e palavra, degustação simbiótica. Pairam questões e flutuam reflexões. Tudo excessivamente degustado sem contra-indicações, como um pós-ébrio, daqueles com Bocas Que Sabem a Papéis de Música.
Bocas Que Sabem a Papéis de Música (174)
Homens [Semioticamente] Sós
O episódio de hoje é inspirado numa música em particular, que perdura no cancioneiro das “Mais Orelhudas”. O BQSAPDM tem assim, como ponto de partida, “Homens Temporariamente Sós“, um tema que “cola ao ouvido”, da autoria do, goste-se ou não, reconhecido iconoclasta, Rui Reininho. Homens que prometiam não falar de amor, de gostar e sentir, não lidavam com amar e mentir e trocavam beijos sem escolher. Sem pressas, sem qualquer tragédia e um vinho a beber. Eram apenas “temporariamente” sós, mas hoje são “homens semioticamente sós”. Diferentes categorizações para a visão, a duração e a amplitude da solidão. Estes novos solitários habitam o digital, encriptados em signos pretensamente apelativos. Ao contrário da solidão transitória, a deles é fragmentada e dispersa, tudo é efémero, onde as conexões são efusivas, mas vazias. Influentes nas redes de interações momentâneas, ora impessoais, ora intensas, mas sempre distantes. Trocam WhatsApps, invadem perfis, mas nunca se fixam. Tem, muito pouco ou nada, de trágica… é uma solidão ordinária, diluída, sem profundidade, perdida em feeds. As memórias perdem-se na rotação entre conteúdos. Como bolas de tênis no ar, também eles saltam, mas dificilmente terão onde aterrar ou onde se agarrar.
Autoria, Locução & Realização:
Lady Jane Doe & Retroneofora
Jingle:
Jorge da Rocha (Música) & Peter de Cuyper (Locução)
Produção:
O Mau Produtor