“A Few Dates of Love“, de Leonor Baldaque, chega às lojas no dia 5 de Abril.
Quando surgiram os primeiros singles e apresentações ao vivo, a música de Leonor Baldaque despertou uma curiosidade irreversível. O disco de estreia “A Few Dates of Love” é editado no próximo dia 5 de Abril, e o concerto de apresentação será na mesma data, às 21:30h, no Auditório Camões, do Liceu Camões.
Antecipando o lançamento, a Irreversível esteve à conversa com a multifacetada Leonor. Mais do que qualquer consideração ou análise neste introdutório sobre “A Few Dates of Love“, ou relativo a Leonor Baldaque, fica a entrevista para que o leitor descubra por si mesmo o que a singular cantautora tem para desvendar.
Eu acho que nós artistas somos agentes da desordem. E guerreiros da beleza.
Leonor Baldaque
Irreversível / Francisco Barros – Olá Leonor, muito obrigado por aceitares esta entrevista, parabéns pelo disco. Fiquei teu fã. Estudaste violoncelo e piano, passaste pelo cinema enquanto actriz em diversos filmes de Manoel de Oliveira, és autora publicada de 2 livros: “Vita” e “Piero Solidão“. Recentemente compraste uma guitarra e eis que surge um disco de originais onde é praticamente apenas a tua voz, a poesia e a guitarra. Como surgiu a ideia, a vontade, para este “A Few Dates of Love“?
Leonor Baldaque – A vontade impôs-se a mim. Foi uma paixão. Não escolhes… Depois, ou segues a tua paixão ou fechas os ouvidos. Eu não pude senão seguir essa paixão. Os acordes criaram letras e melodias, quase de imediato…
Irreversível – Como vês, ou sentes, a relação entre as tuas experiências no cinema, na escrita e na música?
Leonor Baldaque – É total. Eu acho que por caminhos misteriosos, qualquer prática artística nutre outra que pratiques. Tem a ver com a reflexão sobre questões de ritmo, harmonia, equilíbrio, beleza. São tudo temas inerentes a todas as artes.
Irreversível – Esta incursão pela música de autor(a) é uma aposta a que vais dar continuidade?
Leonor Baldaque – Claro, e não é uma aposta. É uma necessidade vital. Como se o mundo fizesse sentido com uma guitarra apenas, agora.
Irreversível – O que poderemos esperar dos concertos? Alguma evolução nos temas quando os apresentares ao vivo?
Leonor Baldaque – Vou cantar os dez temas do álbum. Alguns são longos, outros menos, todos emotivamente exigentes. Como se interpretasse vários papéis no espaço de uma hora. Além dessas dez canções, farei mais algumas, que não estão no álbum porque não lá cabiam, mas que adoro também.
Irreversível – Como foi o processo criativo para a criação das composições e como decorreu depois a gravação?
Leonor Baldaque – O processo criativo é uma magia. Pegas na guitarra, ouves algo, dizes algo, e é quase como se não fosses tu a falar. Alguém fala por ti. Tu tens que estar presente, e ser esse canal. Não há ego nenhum. A gravação foi também mágica, pois eu adoro o processo de gravar. Adoro microfones, o som que produzem, o estúdio, essa solidão, esse isolamento do mundo para criar algo para o mundo, é algo que me fascina.
Irreversível – Quais são as tuas fontes de inspiração? … Senti, pelas melhores razões, bastante do universo de algo como Hope Sandoval…
Leonor Baldaque – Ah, eu gosto muito dela, claro, obrigada. Eu não diria porém que foi uma inspiração. Leonard Cohen, sim, Bob Dylan, sim. Poetas viajantes, escritores se quiseres, pessoas que, como eu, precisam de um papel e de uma caneta sempre, e de uma mesa vazia, nada de especial, de quase nada… E que sentem o mundo a cantar. Concentram as experiências numa canção. Mas gosto de tanta tanta gente. Muito dos grandes clássicos do blues como Robert Johnson, de Dave Van Ronck, de Pete Seeger, mas também de Harry Nilsson ou PJ Harvey, Nick Cave. De poetas, numa palavra.
Irreversível – Pessoalmente detesto rotular artistas ou bandas, é quase sempre limitativo, mas por vezes é necessário fazê-lo. Se tivesses de explicar o tipo de som que fazes, como o descreverias?
Leonor Baldaque – Ah, é tão difícil. Eu acho que vou buscar a todo o lado. Onde quero, e sem pensar nisso. Posso ir a Mahler, posso ir ao Blues… Sem nunca escolher, nem pensar. Mas bom, é Indie, é Pop, é Folk… é um pouco de tudo.
Irreversível – O que é irreversível?
Leonor Baldaque – Eu diria quando um homem trata mal uma mulher, isso é irreversível. Não há mais nada possível depois disso.
Irreversível – Leonor, há algum assunto que queiras abordar e que não esteja espelhado nestas perguntas?
Leonor Baldaque – A política no meio disto tudo.
Eu sinto-me um ser político antes de mais. Eu sinto que qualquer coisa que lances para o mundo,
artisticamente, tem um peso político. Se fazes música para o centro, ou para a margem. Eu sinto-me
bem nas margens, que é uma forma implícita de contestar o centro. Os valores burgueses. Os valores
utilitários. Eu acho que nós artistas somos agentes da desordem. E guerreiros da beleza.
Também em Abril, a editora Quetzal publicará a primeira tradução portuguesa do último romance francês de Leonor Baldaque, “Piero Solidão“.
Foto de capa:
Leonor Baldaque © Eduardo Real