“Seascapes“, o novo disco de Astrodome, é editado esta Sexta-feira dia 25.
O quarteto do Porto prepara-se para editar o novo disco de originais, com selos Copper Feast Records (UK), Totem Cat Records (França) e a nacional gig.ROCKS!.
Em “Seascapes“, os Astrodome exploram novas texturas sonoras e uma temática ligada ao mar. A banda optou por um processo mais controlado e experimental, encarando o processo de edição como um instrumento e utilizando recursos digitais para expandir as possibilidades criativas. O resultado é um álbum que representa uma evolução significativa na sonoridade da formação. Os singles “Espic Hel Horizon” e “Riptide” já foram revelados.
Antecipando o novo lançamento e as datas de apresentação, com a 1ª a acontecer numa noite Malfeito, estivemos em conversa publicável para Irreversível:
Gostamos de fazer música instrumental psicadélica, expansiva e imersiva.
Astrodome
Francisco / Irreversível – Olá malta, obrigado pela disponibilidade para esta entrevista e parabéns pelo novo disco. É um prazer enorme para mim, vocês sabem, e para a Irreversível, poder estar novamente na conversa com um projecto que praticamente vi nascer e que acompanhei atentamente. Na 1ª geração da Magazine existia uma entrevista com vocês e uma das músicas oficiais da Irreversível era vossa. Acresce que nos cruzamos, para além dos muitos concertos, por duas vezes nas míticas festas do “Festim da Cadela“. Fiquei uns anos sem saber nada dos “Astrodome” e desde 2018 que não editavam nada de novo. Mudou muita coisa entretanto?
Astrodome – Obrigado, Francisco e Irreversível, pelo convite. É verdade! Temos boas memórias contigo e com a Irreversível, e ficamos satisfeitos por vermos que a Irreversível cresceu e está tão ativa, passados todos estes anos.
Sim, andámos afastados durante uns tempos. Após o período de apresentação do nosso segundo álbum decidimos, em 2019, que precisávamos de parar de tocar ao vivo durante algum tempo para nos dedicarmos ao terceiro álbum. Entretanto, veio a pandemia, alguns de nós estiveram a viver fora do Porto ou fora de Portugal, e tudo ficou em suspenso ou a meio gás. Só retomámos a sério com a banda completa em 2023. Agora, somos as mesmas quatro pessoas, mas muita coisa mudou nas nossas vidas pessoais e também enquanto músicos e banda.
Irreversível – Quais as maiores diferenças entre este novo “Seascapes” e os discos anteriores de Astrodome?
Astrodome – O “Seascapes” é um álbum diferente dos anteriores em vários aspetos. É mais coeso, com uma identidade própria mais definida. Não deixa de ter o carácter da banda bem vincado, mas explorámos novas sonoridades, texturas e acordes que vão aparecendo repetidamente ao longo do disco e que marcam essa identidade. A nível de estilo, apesar de ser um aspeto que nunca nos preocupou muito, ficámo-nos mais pelo Psych e menos no Stoner, no Doom ou mesmo no Prog ou no Post… que chegámos a roçar em algumas músicas dos álbuns anteriores.
Irreversível – Como foi o processo criativo para a criação das composições e como decorreu depois a gravação?
Astrodome – O processo criativo foi completamente diferente dos discos anteriores, o que se refletiu na música.
Nos álbuns anteriores as coisas foram feitas com imensa espontaneidade. A “High Spirits” foi composta em vinte minutos no ensaio no dia anterior ao nosso primeiro concerto. Nos dois primeiros discos fomos para estúdio com as músicas bastante inacabadas. Fomos para Caminha, para o Hertzcontrol, estúdio do Marco Lima, e ficámos dois ou três dias fechados a acabar e a gravar as músicas de uma vez, que depois foram misturadas pelo Marco. Foi uma experiência boa. Havia uma crueza que se nota bem no resultado final.
Com o “Seascapes” foi o oposto. O Kevin, que estudou produção musical, já estava a começar a trabalhar com algumas bandas e sentimos que era uma boa oportunidade para experimentarmos outros métodos e termos o álbum gravado e misturado por nós. Investimos na nossa sala de ensaios e decidimos que íamos nós fazer as coisas, com tempo, sem prazos rígidos e, acima de tudo, sem a pressão de irmos para estúdio e termos que ficar com o resultado final de apenas dois ou três dias de gravações. Outro ponto que definimos foi que íamos gravar o disco sem nos preocuparmos com as eventuais limitações que teríamos quando fossemos tocar ao vivo, aceitando que as performances em concerto são adaptações do álbum. Isto teve um grande impacto no processo criativo porque nos deu o controlo total e as possibilidades infinitas, tanto a compor como a gravar, de fazer, desfazer, refazer e de acrescentar várias camadas. Tivemos a oportunidade de gravar algumas partes na Arda, mas depois andámos o resto do tempo a gravar no nosso “estúdio”, em estúdios de amigos e até nas nossas próprias casas. É um processo diferente, não sendo necessariamente melhor nem mais fácil do que o outro método, mas que exige mais critério e rigor para que não se acabe a divagar em demasia e o processo não se torne excessivamente longo. Mas estamos muito contentes com o resultado.
Os concertos são uma oportunidade para explorar registos que não têm necessariamente que ser iguais aos do disco.
Astrodome
Irreversível – Quais as vossas expectativas hoje, passados 6 anos, relativamente ao público do underground que tão bem vos acolheu até ao final de 2019?
Astrodome – Muita coisa mudou, tanto em nós como na cena musical em geral, no público ou nas venues. Houve espaços e promotores que não resistiram à pandemia. Dá pena olhar para o mapa e perceber que há cidades ou vilas onde já tocámos que hoje em dia não têm ninguém a organizar eventos na cena underground. Mesmo nas grandes cidades a oferta mudou. E isso tem impacto na cena e no público. Mas também vemos novas coisas a acontecerem, algumas se calhar mais organizadas que antes, e o público continua a estar lá para ser conquistado. De certa forma, vemos esta situação como se tivéssemos a recomeçar do zero. Por isso, estamos na expectativa para ver como vai ser reação ao novo álbum e aos concertos.
Irreversível – O que podemos esperar dos vossos concertos? Alguma evolução nos temas quando os apresentarem ao vivo? E, tenho de perguntar, vão tocar músicas dos discos anteriores? Andam a ensaiar a “Into the Deepest Space” para o encore?
Astrodome –Sim, os concertos vão ser diferentes dos álbuns. Tal como dissemos antes, encaramos os concertos como um momento próprio ao qual temos que adaptar a nossa música. Por um lado, temos que lidar com as limitações de sermos só quatro pessoas a tocar e temos que abdicar de alguns elementos que aparecem no álbum. Por outro lado, achamos que os concertos são uma oportunidade para explorar registos que não têm necessariamente que ser iguais aos do disco. Por exemplo, achamos que há músicas que em álbum são mais introspetivas, mas que ao vivo têm potencial para funcionarem melhor num registo mais enérgico. Vamos também tocar músicas dos álbuns anteriores. Aliás, há algumas músicas que tínhamos deixado de tocar, com as quais já nos identificávamos menos, mas cujo potencial “redescobrimos”, e decidimos que as vamos voltar a tocar, com as devidas adaptações.
Irreversível – Existem já 8 datas de apresentação do “Seascapes“, algumas delas em conjunto com os Irreversíveis Madmess. Que outros planos podemos esperar? Tour internacional?
Astrodome – Sim, vamos começar logo com uma agenda bem preenchida. E temos a sorte de contarmos com os Madmess, que são uma grande banda e boa gente! A ideia é continuarmos a tocar o mais possível, mas também em novos palcos, dentro e fora do país. Já fizemos duas tours pela Europa e foram experiências muito positivas. Como as nossas vidas fora da banda nos exigem cada vez mais responsabilidades, só temos que ser um pouco mais organizados. Mas, tocar lá fora está, sem dúvida, nos nossos planos.
Irreversível – Quais são as vossas fontes de inspiração?
Zé – Um pouco de tudo. Há bandas sonoras de jogos ou filmes, alguma música clássica ou álbuns de Exótica dos anos 50 e 60 que têm muita influência no tipo de acordes e harmonias que gosto de explorar.
Mike – Não há nada que me inspire particularmente, mas diria que o que vou absorvendo no dia a dia tem um papel importante.
Kevin – Música de videojogos nos anos 90, principalmente JRPG’s. Música ambient dos anos 90. E rock progressivo dos anos 70.
Bruno – A vivência do dia a dia, mas muito também das pessoas mais próximas. Isto para além da música, cinema e arquitetura.
Irreversível – Pessoalmente detesto rotular artistas ou bandas, é quase sempre limitativo, mas por vezes é necessário fazê-lo. Se tivessem de explicar o tipo de som que fazem, como o descreveriam?
Astrodome – Nós também não nos preocupamos muito com rótulos, sinceramente. Por isso é que cada vez mais adotamos o Psych como rótulo mais abstrato e abrangente, que não especifica demasiado. Gostamos de fazer música instrumental psicadélica, expansiva e imersiva.
Irreversível – O que é irreversível?
Zé – O primeiro álbum de Black Sabbath.
Mike – Um excelente filme.
Kevin – Quando queimas uma torrada. Não adianta raspar com a faca.
Bruno – A história, o passado que ficou.
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Foto de capa:
Astrodome © Filipa Sequeira