Para mim, sempre houve um vínculo afetivo entre os lugares e as músicas. Não consigo dissociá-lo, e, quando viajo, as memórias mais duradouras e intensas são aquelas em que a música esteve presente. A música está ad aeternum na minha mente.

Estava uma tarde de sol e de temperatura muito quente em Monopoli. Os veraneantes banhavam-se na multidão de azuis do mar Adriático. As muralhas seiscentistas e o calor do casario branco intrometido entre castelos e igrejas medievais, despertou em mim uma ligeira sensação de fragilidade mas acima de tudo, de surpresa. Ninguém nos prepara para a beleza destas terras!! Os turistas distribuíam-se pela esplanada procurando espaços com sombras num lugar muito despido de árvores. Assim que punham os olhos na paisagem deslumbrante as suas expressões pareciam tranquilizar-se.

Monopoli © Miguel Pinho
Monopoli © Miguel Pinho

A meu lado falavam-se idiomas bem expressivos e os rostos dos clientes faziam-me crer que estava perante, essencialmente, gente do centro e do sudeste europeu.
A dada altura, pedi ao cavalheiro se me poderia trazer um outro copo de vinho. Em Roma sê romano e como tal, ao longo de toda a minha estadia em Puglia, experimentei apenas vinhos da região. À minha frente via rapazes e raparigas falando e gesticulando de forma emotiva… ou não estivéssemos em Itália. O ambiente era divertido e sociável.
A música que escutei até então era boa, mas o momento pedia algo cintilante, algo que me acompanhasse na minha viagem mental em que voava sobre as varandas deslizantes deste charmoso porto do sul de Itália.
A minha companhia tinha ido dar um mergulho – não me aventurei a fazer o mesmo –, e como não tinha com quem conversar, recorri aos auriculares que estavam na minha sacola. Por nenhuma razão em particular a escolha recaiu em Sébastien Tellier. Bem, talvez o meu subconsciente tenha sido empurrado pela elegância e leveza da música do compositor francês.


Pouco tempo depois dei por mim a cantar baixinho e a dar pequenas risadas…. a música de Sebastien Tellier dança como o sol. Quando a minha companhia chegou após muitos mergulhos no azul do Adriático, eu estava realmente radiante. A música tem um efeito enorme em mim…


*Foto de capa: Monopoli | © Miguel Pinho


Vigésima segunda edição d´ “As sonoridades das viagens“ na Irreversível.
Miguel Pinho é um reconhecido apaixonado por música e autor publicado sobre viagens.
Conhecendo estas premissas, a Irreversível lançou-lhe o desafio de somar as duas, a música e as suas viagens, numa rubrica para Magazine.

Mais recente livro de Miguel Pinho (artigo Irreversível):
Das Pontes do Porto aos Doces Vinhedos Magiares“.