Os BIG|BRAVE partiram o silêncio no gnration

Não é uma parede de som, são ondas, vagas. E elas não vêm apenas do palco, vêm também de dentro. No passado sábado, em Braga, os BIG|BRAVE voltaram a mostrar que a lentidão também pode esmagar, que o peso não precisa de pressa. A sala do gnration foi pequena para o que aconteceu ali dentro. E ninguém saiu nem indiferente, nem neutral. Os BIG|BRAVE não permitem isso.

A banda canadiana, agora em formato quarteto, apresentou o seu oitavo disco como quem desenha um abismo. Robin Wattie continua a cantar como se cada palavra lhe atravessasse o corpo primeiro, mas é o todo que nos arranca o chão, ou, de outra forma, que desenterra, desse chão, sentimentos e emoções. A guitarra de Mathieu Ball, com feedbacks arrastados e dissonância obsessiva, traça e concebe a tensão como um fio de sangue que não estanca. O baixo de Liam Andrews é um soco demorado, um distinto subgrave que vibra até aos ossos. Tasy Hudson, na bateria, segura tudo com firmeza e precisão, como se estivesse sempre à beira de explodir, mas nunca se dá a esse luxo ou sequer se tivesse esse privilegio.

BIG|BRAVE são os Portishead fodidos da cabeça e que cresceram a ouvir post-punk, doom e stoner. Música lenta, suja, emocionalmente violenta. Trocam o trip-hop por camadas de distorção, o silêncio por feedbacks, a melancolia por dor lenta e dilatada. É música que dói, mas que cura… se tiveres paciência para o tratamento. São os Portishead de um mundo em colapso, para quem vive com a inquietação à flor da pele e encontra beleza nas ruínas, no peso, nas irregularidades e no sombrio. Música para quem já perdeu tudo… onde só resta o som e as perturbações.

BIG|BRAVE © gnration
BIG|BRAVE © gnration
BIG|BRAVE © gnration
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BIG|BRAVE © gnration
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Não foi só Wattie que nos rasgou de alto a baixo com a sua voz. A guitarra de Ball foi um incêndio controlado a arder lentamente, o baixo de Andrews cavava buracos no peito e chegava a partes escondidas do cérebro, e a bateria de Hudson, seca e certeira, soava como se cada batida fosse a última.

BIG|BRAVE é uma máquina de demolição feita de gente, e no sábado, no gnration, partiram-nos o silêncio em pedaços e frações de distorção, disformidades e perturbações em serie. Foda-se, que concerto.


*Todas as fotos: BIG|BRAVE © Hugo Sousa | gnration