Fomos até Ponte de Lima para o 3º dia da 2ª edição do Festival
O cartaz era muito apelativo para os 3 dias de Festival, mas nem sempre as coisas acontecem como queremos e a Irreversível apenas conseguiu estar presente no dia de encerramento. Valeu a pena.
Partimos cedo rumo a Ponte de Lima, o objectivo era fazer 2 ou 3 entrevistas antes do festival arrancar. Chegamos ainda não eram 17h e fomos informados que não poderíamos entrar no recinto antes das 18h/18:30h. Meio perdidos com o rumo a seguir, cruzamo-nos com o Director de Produção do Festival que nos repete a mesma informação e deixa uma sugestão: “Francisco, vai até à Vila, bebe uma garrafa de verde com a Susana e volta para assistir à Surma!“.
Aceitamos o desafio no mesmo instante.
Conheço bem Ponte de Lima desde miúdo, assim como diversos sítios onde se poderia beber a tal “garrafa de verde“. Sabia muito bem onde queria ir, mas batemos com o nariz na porta, ainda não estava aberto. Viela para um lado, ruela para o outro, descortinamos um espaço bastante apelativo, aberto, com carta de petiscos prontos a servir. Sentamo-nos numa salinha junto ao balcão com vista para a cozinha. O ar-condicionado dessa salinha prevalecia ao intenso calor, mesmo que à sombra, da atraente esplanada.
Garrafa de “Ponte de Lima Adamado” pedida (tinha de ser “Ponte de Lima“), juntamos-lhe um tachinho de favas com chouriço, “para não estar a beber sem comer qualquer coisa“. O petisco estava incrível, puxadinho como se quer, e a garrafa de “Ponte de Lima Adamado” desapareceu. Motivados pelo 1º petisco, partimos para a 2ª garrafa de “Ponte de Lima Adamado” e para uma alheira da região em cama de grelos. Estava deliciosa e preparada com o cuidado que revela carinho.
Entretanto, já estávamos em animada conversa com os simpáticos proprietários do “Porão Limiano“. Falávamos de vinhos, petiscos e iguarias, assim como, claro, da razão da nossa ida a Ponte de Lima naquele dia.
Fomos mais poupados com a 2ª garrafa. Para ajudar a terminar o néctar Limarense, decidimos pedir um picadinho de vitela. Estava tenra e saborosa. Foi um remate primoroso.
Por essa altura reparamos que o tempo tinha passado demasiado rápido, pedimos a conta e nesse momento levo com o desafio, relacionado com as conversas anteriores, de: “Não se vai embora sem provar do nosso verde tinto!“. E não fui. Malga no balcão e toca a provar… “Para provar deste devia ser em jejum, têm de passar aqui para um pequeno-almoço“. Haveremos de o fazer, lá mais para o outono/inverno. A simpatia, a forma como fomos recebidos e a qualidade dos produtos, assim o exige.
Em passo ligeiramente acelerado, não pelo vinho, mas porque o concerto da Surma estaria quase a começar, entramos no recinto do Festival Ponte D’Lima pela 1ª vez em 2024. Um par de minutos depois a Surma arrancava o dia de concertos, acompanhada pelo Joao Hasselberg e o Pedro Melo Alves.
Já tinha assistido a este formato em trio, no Maus Hábitos, e levava a curiosidade de ver como funcionava em palco de festival. Sou um apaixonado pelo trabalho de Surma, esse gig no Maus Hábitos tinha sido arrepiantemente memorável…
Funciona. Foi muito bom. Este trio cria narrativas sonoras e nada do que se faz em Portugal se aproxima deste espetáculo. Uma simplicidade avant-garde à prova dos ouvidos mais duros. Deixar aqui uma nota, este gig teria funcionado ainda melhor já com o cair da noite… isto sem qualquer menosprezo para as bandas que se seguiram.
Se já ia com a vontade de estar à conversa com a Surma, o concerto multiplicou o desejo e, mais tarde nessa noite, lá a conseguimos apanhar: Reel entrevista Surma @ Festival Ponte D’Lima 2024.
O palco principal abriu com Glockenwise e o seu “Gótico Português“, um dos discos do ano 2023 na Irreversível.
Bom concerto a confirmar e afirmar toda a qualidade da banda barcelense. Também estivemos à conversa com os Glockenwise. Até ao momento ainda não ficou decidido se lançamos reel ou se vamos transcrever a entrevista e lançar por escrito aqui em irreversivel.pt. Seja como for, vamos ter mais material a sair com os Glockenwise.
Entre o final do gig de Glockenwise e a curta distância para o 2º palco, aonde iriam actuar os irreversíveis Gator, The Alligator, fomo-nos cruzando com diferentes pessoas e personalidades, colocar pequenas conversas em dia e, o tempo voa, Gator estava a começar…
Assisti ao longo dos anos a muitos de gigs dos Gator. Assisti, sei-o hoje, a um dos seus 1ºs concertos de sempre há cerca de uma década. Só este ano já os tinha visto no irreversível Ano Malfeito, no warm-up do Basqueiral, e em nome próprio no CRU, em VN Famalicão. Sou fã, nem tenho intenção de esconder esse facto. Aliás, este arranque do último dia da 2ª edição do Festival Ponte D’Lima, com Surma, Glockenwise e Gator, The Alligator, foi para mim um verdadeiro festim sonoro e o meu dia de concertos até poderia acabar ali que já ia de alma, e barriga também, completamente cheia.
Falta escrever que os Gator, mais do que não desiludirem, deram um dos melhores concertos a que tive o prazer de assistir da banda. Estão em óptima forma…
Gator, The Alligator © Shootsounds
Ir a um festival trabalhar e procurar conteúdos é mais do que ir para lá assistir a concertos. Queríamos muito entrevistar a Surma, os Glockenwise e os Gator, sendo que até já temos uma entrevista com os Gator aquando do lançamento do seu “Laminar Flow“. O plano prévio apenas incluía a Surma e os Glockenwise, mas, oh pá, o concerto dos Gator tinha sido tão cool que queríamos apanhar a banda para trocar umas impressões sobre a potente descarga que tinham acabado de proporcionar.
Acabamos por não apanhar os Gator, eles tinham outras entrevistas já programadas para dar e não queriam, eu entendo, perder o concerto dos OSEES.
Durante o concerto dos The Last Internationale, estivemos com a Surma e depois com os Glockenwise. Se queríamos perder os The Last Internationale? Não. Mas, como diz o antigo ditado, “não podes ter sol na eira e chuva no nabal” e tivemos de tomar decisões e opções. Haverá, certamente, mais ocasiões para não perder os The Last Internationale.
Nas conversas que íamos tendo, os OSEES eram a banda mais referenciada e desejada. Também eu levava (robóticas) expectativas para a minha 1ª vez com norte-americanos. O projecto, que nasceu em 1997 e que tem sofrido significativas alterações ao longo dos anos, Orinoka Crash Suite (1997–2003), OCS (2003–2005, 2017, 2023), Orange County Sound (2005), The Ohsees (2006), Thee Oh Sees (2006–2017), Oh Sees (2017–2019), mais de 30 lançamentos sob os diferentes nomes e 14 músicos que passaram pela banda, onde o único denominador comum é o nome de John Dwyer, fundador e líder do projecto. Actualmente, desde 2016/17, com 2 bateristas em palco, na frente de palco, o profícuo quinteto tem estado mais ou menos estável nesta formação.
O arranque de concerto foi motivante e parecia estar ali o grande momento da noite. O público reagia muito positivamente música atrás de música, e foi assim até ao fim do concerto. Já aqui o escriba foi esmorecendo. Valorizo muito todo o trabalho que John Dwyer & Companhias têm desenvolvido ao longo dos anos, estava expectante, mas para mim não será um concerto que vá perdurar na memória. No entanto, para a massa humana que recheava o recinto e não arredava pé, que dançava, pulava, curtia e fazia mosh, este foi certamente um concerto para mais tarde recordar. Independentemente da minha opinião sobre a actuação, foi seguramente um dos pontos mais altos das duas edições do Festival Ponte D’Lima.
OSEES © Shootsounds
… Ainda andávamos a ver se apanhávamos os Gator para a troca de impressões e começou o concerto de Omar Souleyman… Não resistimos, fomos curtir e dançar. Omar Souleyman impõe a alegria e a animação naturalmente, sem grandes complicações. Uma mistura simples e eficaz, quase mágica, de música do Médio Oriente (Omar Souleyman é natural da Síria e actualmente vive na Turquia) com teclados e batidas irresistíveis, a que se soma a sua cativante e sedutora voz. Um cocktail despretensioso e explosivo.
Omar Souleyman cabe num qualquer alinhamento de um qualquer festival de verão… de outono, de primavera ou inverno.
Terminamos o dia de concertos com um rasgado sorriso e com a mente inibriada por Souleyman…
*foto de capa OSEES © Ivo Sousa